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Preciso terminar
De morrer
De uma vez
Que assim
Aos poucos
Tem doído tanto
Os olhos abrindo e fechando
Pela última vez
Sem realmente deixar de ver
A morte e a doença
E a tristeza lustrando o caixão
Carregando flores
Acendendo velas
Com a mão dela
Não pode ser
Essa coisa
De vida pingando
A conta gotas
Preciso acabar de morrer
De uma vez
Para voltar a viver
Everton Behenck
Doutor
Procure cura
Para a mulher deitada
Em sua cama
Que muito ela chama
E ninguém responde
E a dor se esconde
Em seu travesseiro
Mande remédio
Doutor
Que a menina
Mesmo desprezada
Luta consigo
Para tirar alívio
Dos olhos aflitos
Ela não sabe doutor
Que está doente
E o que sente
É o sintoma
Da sua enfermidade
Seu pensamento
A morde doutor
E ela não pode
Lutar contra isso
Sem perder litros e litros
De seu brilho
E ela já brilhou muito
Doutor
Venha acudir
Que ela se refugia
Na raiva vazia
E são muitos os perigos
No lugar desconhecido
Onde esta
Que a prende
Lhe arranca os dentes
E os cílios
Não é bonito de ver doutor
Então venha
O mais brevemente
Porque ela
Já está perdendo as forças
De tanto lutar com essa outra
De tantos braços
E bocas que falam
E ouvido que inventam
E respiram
Não imagino
Que tipo de medicamento
Pode arrancar alguém
De dentro
Sem que esse
Não se despedace
Em mil partes
Fúteis como a tarde
Preciso saber doutor
Se ela sobreviveria
A anestesia
Por favor
Mande remédio
Porque é muito sério
Que uma mulher tão linda
Fique fraca e cinza
E que não se perceba mais
Aquela
Que espera dentro dela
Como um pássaro azul
Ela organiza as coisas
Tentando organizar a si mesma
Mas é como um castelo de areia
Vem sempre a onda
Quantas vezes é possível
Começar tudo do início
Existe remédio para isso?
Quanto sacrifício
Transformar a dor em ofício
Mande quem sabe
Tratamento
Unguento para seu tormento
Mande um remédio
Preciso cura-la
Porque a amo
E já não posso mais ama-la
Por favor
Doutor
Pesquise
Se a medicina
Já entende
Como se faz nascer gente
De gente adulta
Não há luta mais dura
A vida é uma carnificina
E vai devorar a menina
E morrerá nela
Essa mulher
Que nunca nasceu
Quantas vezes
Ela correu aos olhos
Para ver lá fora
Encontrar quem passa
Apaixonar um homem
Quantas vezes
Ela desapareceu
Os olhos e a respiração
Respirando escuridão
O rosto
Desfigurado
Quanto estrago
Quem já viu
Algo capaz de causar isso
A uma pessoa
Não ser capaz
De suportar o amor
Não ser capaz
De suportar a paz
Onde mais posso encontrar
Alivio para ela
Traga remédio doutor
Que morrer de amor
A muito não se usa
E enlouquecer é simples
Não é possível viver assim
Por tempo indefinido
Não é possível
Se perder pelas cores
De algo invisível
Me pergunto
O que acontece com seus olhos
Buracos negros
Absurdamente sólidos
Sugando tudo com sua gravidade
Olhos negros de verdade
Doutor
Não fuja da sua responsabilidade
Mande remédios
Urgentemente
Para um vulto
Que arde em febre
Para mantê-la leve
Para que ela desperte
Suavemente
E acorde o amor na gente
Mande remédio
Que ela merece
Saúde
E se remédio lhe sobrar
Doutor
Mande remédio para mim
Everton Behenck
*Homenagem ao poetinha e o seu Desespero da Piedade.
Eu ganho outras cores
E as vezes a escuridão intensa
Do que se apresenta
A vida sempre será imensa
Para quem a perceba
Eu ganho os sentidos
Despidos
Ao mínimo indício
Do vento vivo
Que sopra suas notas
E também a surdez
Da palavra torta
Eu ganho a possibilidade
De estar além do que se vê
Mas quem disse que é bonito
O que está escondido
Eu ganho o que é quase imperceptível
Mas quem disse
Que aquilo que quase não se percebe
Não é capaz de matar o que antes era alegre
Eu ganho a possibilidade linda
De ver tudo o que a vida
Muitas vezes não explica
E em troca sofro de forma explícita
Aonde ninguém mais sofreria
Everton Behenck
Poema resposta para que minha querida amiga Julia Duarte utilizasse em uma aula.
Não somos
Todos
Como este cãozinho que me olha
Sem conseguir compreender
Ou falar sobre o que sente
Não estamos todos
No fim das contas
Esperando que alguém volte
Pela porta
Para nos refazer as horas
Não temos todos
Estes mesmos olhos pedintes
Escondidos em alguma parte do corpo
Em algum gesto
Quando se move
Ou em nosso caráter
Mesmo quando é violento
Em alguma
Já perdida
Natureza
De ser predador
E ser presa
Não estamos todos
Procurando algum carinho
Infinito
Companhia e comida
Para todo tipo de fome
Não somos todos
Como este cãozinho
Tomando meus remédios
Resmungando baixo
Sem saber se vão passar
Suas dores
Somos todos um pouco
Como este pequeno cachorro
Esperando que a vida lhe jogue
Um osso
Everton Behenck
A vida
Não é fácil, querida
Mas é possível
E é incrível estar vivo
Mesmo que agora não pareça
As vezes a vida
Se ausenta
Faz parte
Fique forte
No pensamento
De que tudo se move
Sua vida está indo
E não há sofrimento
Definitivo
Colecione suas dores
Com carinho
Um dia
Até elas farão falta
E devemos
Atravessar o tempo
Com todos os nossos
Pertences
E a dor está entre eles
Mas a dor passa
E sem dor
Não se faz nada
Everton Behenck
Um verso amável
Para manter estável
O coração
Não o músculo involuntário
Mas o órgão imaginário
Feito para apreender
O que os sentidos
Não sabem sentir
Um verso amável
Para manter saudável
O coração
Não este músculo agredido
Pelo tempo
Mas o outro
Capaz de morrer em um ano
Uma vida inteira
E que precisa tanto de cuidado
E de alguém
Que lhe queira bem
Um verso amável
Como quem
Sem te conhecer
Te deseja uma boa noite
Um verso amável
Que não tenha nada a ver com literatura
Ou com cardiologia
Um verso amável
Para manter saudável
O coração
Não o músculo tema
De conferencias
E sim aquele
Para o qual ninguém tem receita
Um verso amável e gratuito
Para cuidar do que é invisível
Everton Behenck
Para Marcelo Firpo que, com um desejo de boa noite sincero, me deu esse poema cheio de compaixão.
PS: Férias. Em Julho eu volto. Fiquem bem. Bjs.
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E por apensas R$7,90.
Bom, né?
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Preciso escrever um poema
Mesmo que nada em mim
Tenha um rosto
Para virar
Em direção ao verso
A cidade pressente a treva
E a noite não é mais
Que um diluvio de sombra
Mas preciso urgentemente
Escrever um poema
Antes que escureça
Meus olhos
E minhas mãos
Não seguram
A palavra que passa
A ausência me impede
Com sua mão enorme
E sou como um boneco
De ventríloquo
Que ninguém manipula
Os olhos abertos
E a face muda
Os computadores todos escrevem:
Não há poesia
Mas preciso escrever um poema
Com a urgência
De quem sangra
Sem que se perceba
Preciso escrever
Esse poema
Para que ele me convença
Everton Behenck
O pequenino ser
Corre sempre em frente
Nunca para
Salta como pode
Sobre toda sorte
De obstáculos
Agarra moedas no ar
Preciosas
Encontra e perde
Jóias
Mas de repente
Em um momento ele erra o passo
E cai no vazio
Ou então passa correndo
E o trajeto acaba
E ele se perde no nada
Game over
Engraçado
Como é igual
Na vida
Everton Behenck
Saudade é provocar o amor
Até não aguentar mais
Como em uma propaganda antiga
De refrigerantes
Saudade
É cutucar o amor
Com vara nenhuma
É o medo do amor
Não ser o mesmo
Quando a gente acorda
É o medo de ter a mão
Devorada
Por uma fera
Sem que ela saiba
O que significa
O que está engolindo
Saudade
Quando diz de verdade
É um cisco
No pensamento
Que o outro
Ausente
Não sopra
Everton Behenck