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Eu ganho outras cores
E as vezes a escuridão intensa
Do que se apresenta
A vida sempre será imensa
Para quem a perceba
Eu ganho os sentidos
Despidos
Ao mínimo indício
Do vento vivo
Que sopra suas notas
E também a surdez
Da palavra torta
Eu ganho a possibilidade
De estar além do que se vê
Mas quem disse que é bonito
O que está escondido
Eu ganho o que é quase imperceptível
Mas quem disse
Que aquilo que quase não se percebe
Não é capaz de matar o que antes era alegre
Eu ganho a possibilidade linda
De ver tudo o que a vida
Muitas vezes não explica
E em troca sofro de forma explícita
Aonde ninguém mais sofreria
Everton Behenck
Poema resposta para que minha querida amiga Julia Duarte utilizasse em uma aula.
O que você está fazendo
Agora
Enquanto espero esse avião
Que não decola
Penso em você
Fazendo carinho na Cora
Contando para ela
Que logo estarei de volta
Penso em você
Fazendo as compras para me esperar
Comprando algo que eu goste
Gosto de você
Então me espere
Penso em você
Manobrando os carros
Um ao lado do outro
E nós separados
Penso em você
Comendo algo na cama
Enquanto eu falo uma língua
Estranha
Penso em que tipo de flor
Você colocou na sala
Enquanto arrumo minha mala
Penso no que vai nascer
Desse tempo que ficamos separados
Algo que só irá nos contar
O abraço
Berlim, Junho 2013.
Everton Behenck
Nessa casa
Mora a alegria
E o amor da vida
Nessa casa
Toda tristeza
Que é nossa
Se transforma
E nos revigora
Nessa casa
O piso doído
Os pratos quebrados
As lágrimas derramadas
Servem para lavar o chão
Servir o pão
E varrer os olhos
Da mulher amada
Nessa casa
Mora
Dorme e acorda
Nossa história
Já fomos loucos
E rudes um com o outro
Já fomos doentes
E já derrubamos todas as paredes
E nada muda o amor da gente
Nenhum caminhão para em nossa porta
Para levar a mobília do afeto embora
Nessa casa mora
O que nos alimenta
E o que nos consola
Um homem
Muitas vezes estúpido
Como todos os outros
Mas capaz de amar
E doer de amor
Como poucos
Uma mulher
Muitas vezes insana
Como tantas outras
Mas capaz
De iluminar de amor
Um vitral de cacos
Com os olhos fartos
Um cão
Sem educação
Como tantos filhotes
Mas capaz de repousar a cabeça
No silencio da nossa tristeza
Nessa casa
Mora a alegria
Nessa casa
Mora
O amor da vida
Everton Behenck
Não somos
Todos
Como este cãozinho que me olha
Sem conseguir compreender
Ou falar sobre o que sente
Não estamos todos
No fim das contas
Esperando que alguém volte
Pela porta
Para nos refazer as horas
Não temos todos
Estes mesmos olhos pedintes
Escondidos em alguma parte do corpo
Em algum gesto
Quando se move
Ou em nosso caráter
Mesmo quando é violento
Em alguma
Já perdida
Natureza
De ser predador
E ser presa
Não estamos todos
Procurando algum carinho
Infinito
Companhia e comida
Para todo tipo de fome
Não somos todos
Como este cãozinho
Tomando meus remédios
Resmungando baixo
Sem saber se vão passar
Suas dores
Somos todos um pouco
Como este pequeno cachorro
Esperando que a vida lhe jogue
Um osso
Everton Behenck
Vocês não tem pena
Desse bicho
Sozinho
Perdido no abismo
Da autoconsciência
Atado à presença da morte
Vocês não se comovem
Com esse animal
Que sabe somente o suficiente
Para entender
Que não entende
Como pode um cão
Despertar mais compaixão
Se é o homem
Quem mais precisa de amor
Vocês não se compadecem
Dessa espécie
Que simplesmente
Não consegue
Vocês não percebem
Que é preciso
Dedicar todo o carinho
Para tirar o homem
De dentro do bicho
Everton Behenck