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O meu medo
É deixar de olhar pra ti
Com esse encanto
De quinze anos
De muitos sonhos
De vida inteira pela frente
Meu medo é nunca mais ter
Tanta vida pela frente
Meu medo é aceitar
Que não fomos, somos ou seremos
E nesse momento
Encher meus olhos de rugas
As costas curvas
A voz atravessando décadas
Em uma única fala
Adeus amada
Meu medo
É essa aposentadoria
De sentimentos e romantismos
Que viria
Com o entendimento
De que não será meu
Teu filho
E de que meus braços
Não terão forças
Para levantar uma criança
Que não tenha teus olhos
Meu medo é me tornar
Tudo isso que digo
Cheio de orgulho
E que no entanto
Não passa de um sintoma
De tua ausência
Quem precisaria ser tão forte
Ter o pensamento tão alto
Tendo você ao lado?
A força
Serve para que eu suporte a distância
A altura de pensamento
Serve para que eu entenda a distância
A literatura e os versos
Servem para que eu possa falar sobre a distância
Sem ter de te ligar
Ou aparecer em sua casa diariamente
E assim
Você me enxerga forte
Alto e bonito
No que digo
Sem saber que só cultivo
Essas coisas todas
Para ter as mãos ocupadas
E que pensarei em ti
Assim que qualquer uma delas
Se distraia
Meu medo é não conseguir dizer
Mais nada
Assim que você parta
Everton Behenck
*último poema da série
Vou ali
Morrer por um momento
É só o tempo de uma canção
Já volto
Com outra cor
Nos olhos
E uma medida infinita
Nas pupilas
Que seguram com tão pouco esforço
Teu corpo
Suspenso no espaço
Vou ali morrer um pouco
E já venho
Com um pequeno desenho
Do que por ventura
Houver do outro lado
Vou ali morrer
E já volto
Everton Behenck
Sinto
Como se todas a palavras
Que conheço
Te pertencessem
E por isso
Fosse preciso
Pedir tua permissão
Para dizer ou pensar
Qualquer coisa
Everton Behenck
O sol está vazio
E as sombras correm
Para todos os lados
O calor não persegue
Por isso assusta
A fuga dessa luz escura
O sol está vazio
E impossível
E os óculos se desesperam
Em frente aos olhos
E a testa franze
Sem motivos
O sol está tão bonito
Bonito
Como um filho
Perdido em uma feira
De miudezas
Bonito
Como uma freira
Apaixonada
Bonito
Como uma máscara
Onde não há o espaço aberto
Para os olhos
O sol está vazio
Mas não devemos olhar o vazio
Diretamente
Everton Behenck