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É tão triste
Um homem
Fumando na janela
De seu apartamento

Soprando um horizonte
Maior

Que tipo de ferida
Ele sopra

Em sua fumaça

Que desgraça cotidiana
Se abate

Sobre sua noite

O que sofre o homem
Calado

Conversando com seu cigarro

Everton Behenck

Grave seus discos
Decore as músicas

Ouvindo uma a uma
A toda altura

Leia seus livros
Preferidos

Como um mantra
Perdido

Nos milênios
Do seu tempo

Compre um instrumento
Mas não repita

Nenhuma cifra

Esqueça o que não acredita
Não é preciso

A verdade é só um mito

Dê um grito
Enquanto faz seu próprio parto

Voltado para o alto

Everton Behenck

Como você pode
Estar assim comigo

Em cada milímetro
De pensamento

Que força sincroniza
Minha alegria com a tua

Que tipo de ironia
Fina

Nos aproxima
Enquanto tudo em volta

É distância

As coincidências
São uma espécie de esperança

Everton Behenck

Vivo

Essa sensação
De que ninguém virá
Sentar comigo

Ao final de tudo isso

Para explicar o propósito
De minha natureza

De célula

Vivendo sempre
A expectativa da cópula

Tão óbvia

Essa dependência
Única e exclusiva
Da nossa capacidade de ter fé

Dever ser algo muito importante

Por favor
Me conte

Everton Behenck

Me é dolorida
A palavra escrita

Uma dor física

Bem no centro
Do sentido

Me é dolorida
A palavra dita

Em seu adoecer
De beleza

Me é dolorida
A palavra

Calada

Que procura a luz do dia
Na fala

Me é dolorida
A palavra

Porque é nela que a dor
Se materializa

Everton Behenck

O que poderia fazer
Alguém

Que tem de seu
Somente o verso

E essa intimidade com as coisas
Que é a poesia

O que poderia fazer
Que valha tanto

A confusão de um homem
Em sua ternura

Inventando carinhos
E motivos para a dança

Em meio a tantos profissionais liberais
Em sua dor mediana

E sua cegueira

Para a beleza triste e plena
Que existe em tudo

O que poderia oferecer
Um homem desses

Que flerta com os vícios
E se emociona
E cultiva a delicadeza

E com ela faz a cama
Para deitar o dia

Em sua companhia

Everton Behenck

O aceno de uma mulher
Estanca o tempo

Os segundos
Se apressam na resposta

Um minuto se joga
A sua volta

Buscando expandir-se
Em uma longa hora

É no aceno
De uma mulher

Que nasce o medo
De sermos pegos

Com a ponta dos dedos
Femininos

O aceno de uma mulher
É sempre o princípio

De um precipício

Everton Behenck

Que é isso
Que persegue

Minha pele

Isso que me caça
Mesmo que minha carne
Não valha

Que é isso

Que me chuta
Os tornozelos

Que me segura
Os cabelos

Esse tipo de violência

É uma doença
Do zelo

Fazemos

Sem sabê-lo

Everton Behenck

O ar que respiro
Espera o beijo

A falta do beijo
responde:

Suspiro

Everton Behenck