You are currently browsing the monthly archive for janeiro 2009.
Onde guardamos essas pessoas
Que vemos uma única vez na vida
Mas que ficam aqui
Perdidas
Em nosso espaço
Vagando no carinho
Que nos deram
E tomaram
Amigos, amores
Olhares cadentes
Onde caem essas estrelas
Marcando nossa superfície
Abrimos portas de repente
Tentando surpreende-las
Pisamos leve
Para não acordá-las
Como se ainda estivéssemos
Na mesma casa
Mas não há nada
Mesmo havendo
Quem menos entende de amor
É o tempo
Everton Behenck
Feche os olhos
Pense nesse mar
A sua frente
Pense
Na areia sob seus pés
No céu sobre você
Pense
Em cada peixe
Que nada às voltas
Com sua vida
Marinha
Pense nas conchas
Na altura dos morros
Nas trilhas abertas
Pelo passo dos bichos
Andando em círculos
Em sua pequena
Existência
Feche os olhos
E veja
Tudo foi
É
E sempre vai ser
Apesar de você
Everton Behenck
Você já vai
Morrendo em mim
Teus olhos já se fecham
Pela última vez
E tudo que vi neles
Passa em minha frente
Como o filme
Que dizem
Vemos no último instante
É nossa vida passando
E é tão curta a metragem do que fomos
Teu peito se levanta
O seio subindo tão lento
É a última vez
Que respira
Em minhas costelas
Seguro tua mão
Com o respeito que devemos
Ao que morre
Aproximo o ouvido de tua boca
Que já fica sem cor
Mas você
Não tem nada a dizer
Everton Behenck
Alguém
Nesse exato momento
Tira
A própria vida
Como se dissesse
Nas entrelinhas
Algo que só pode ser dito
Nesse sacrifício
Algo que a voz não alcança
Que a palavra
Não sabe
Que não cabe na boca
Mas que pensa, pensa, penso.
Remoendo
Com a insistência do peso
Apesar dos preços
Um protesto
No silêncio
Do peito
Uma reação extrema
Ao grande dilema
Um esvaziamento
Do que nunca passou
De um copo vazio
Para dar de beber
À sede
Essa decisão de não fazer parte
Do óbvio
Despropósito
Da carne
E do tempo
Admiro quem se mata
Por respeito
A si mesmo
Everton Behenck
E aqui estamos nós
Um sempre a bater
À porta do outro
Na hora exata do tombo
Quem determinou esse encontro?
Aparentemente
Tão diferentes um do outro
Tão distantes
Aparência, sonhos, planos
E no entanto
Aqui estamos
De novo
Abrindo cartas
Seladas
Na sinceridade do que sentimos
Escritas com a letra
Do que sofremos
Levadas por esse carteiro
De passo em falso
Que é o tempo
Ele que te perdeu
Outro que te perde
Mesmo te tendo
Ela da qual fugi há tanto tempo
Quando fui me esconder em ti
Essa agora
Que me teve tanto
E ainda assim me fez partir
Mesmo sem me ferir
E aqui?
Estamos nós dois
Nós e as partes partidas de nós
Nós e o que fomos
Mudando
Nós e isso que somos
Isso que temos
Onde sempre nos reconhecemos
Mesmo no que mudamos
Mesmo no que perdemos pelo caminho
Para onde vai essa trilha?
Quem diria?
Quem não ficaria surpreso?
Ao saber a idade
Dessa intimidade?
Quem poderia supor
Esse tipo de amor
Quem sabe até onde vamos?
Quem sabe até quando?
Talvez algumas coisas
Muito grandes
Como a eternidade
Só caibam mesmo na amizade
Everton Behenck
Você é minha melhor parte
Menina
Onde a alegria
Se completa
Onde me melhoro
Quantas vezes
Já me encontrei em teu colo
E você foi meu cuidado
E me encontrei em teu afago
Você é minha sorte
Menina
A melhor companhia
Para atravessar o dia
A melhor maneira de ver a vida
É saber o que há em tuas mãos
Que seja meu gesto
O que há em teu rosto
Que seja meu sonho
Não há o que alcance o tamanho
E a altura
Da tua força e da tua doçura
Você menina
É minha cura
Everton Behenck
Só podia dar nisso
Amigo
Tratar uma vadia
Como a mulher da sua vida
Só podia terminar desse jeito
Parceiro
Você com essa raiva
De todo o gênero
Feminino
A mulher é um vício
Amigo
É preciso muito cuidado
A mulher é um destino
Inevitável
Mas você é o culpado
Everton Behenck
Quero olhar nos olhos
Do esquecimento
Pedir que me devolva
As páginas arrancadas
Não lembro direito
Da infância
Do carinho paterno
Da atenção de sua barba
O esquecimento deve ter posto
Essas lembranças no bolso
Quando meu pai foi embora
Mas agora
Quero de volta
Já perdoei sua ausência
E o espaço para elas está limpo
A espera
Não recordo do primeiro beijo
Deve ter sido sem jeito
Devo ter mordido os lábios
Ou pode ter sido
De despedida
Mas já tive tantos amores
Em minha vida
Que essa dor
Se é que foi
Doída
Já está redimida
E já posso conhecer seu rosto
Não me lembro do primeiro choro
Em que me doía
A vida
Já aprendi a tirar alegria
Do dia
E plantar flores na ferida
Queria que o esquecimento
Me devolvesse os começos
Everton Behenck