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Onde guardamos essas pessoas
Que vemos uma única vez na vida

Mas que ficam aqui
Perdidas

Em nosso espaço

Vagando no carinho

Que nos deram
E tomaram

Amigos, amores
Olhares cadentes

Onde caem essas estrelas
Marcando nossa superfície

Abrimos portas de repente
Tentando surpreende-las

Pisamos leve
Para não acordá-las

Como se ainda estivéssemos
Na mesma casa

Mas não há nada
Mesmo havendo

Quem menos entende de amor
É o tempo

Everton Behenck

Feche os olhos
Pense nesse mar
A sua frente

Pense

Na areia sob seus pés
No céu sobre você

Pense

Em cada peixe
Que nada às voltas
Com sua vida

Marinha

Pense nas conchas
Na altura dos morros

Nas trilhas abertas
Pelo passo dos bichos

Andando em círculos
Em sua pequena

Existência

Feche os olhos
E veja

Tudo foi

É

E sempre vai ser

Apesar de você

Everton Behenck

Você já vai
Morrendo em mim

Teus olhos já se fecham
Pela última vez

E tudo que vi neles
Passa em minha frente

Como o filme
Que dizem

Vemos no último instante

É nossa vida passando
E é tão curta a metragem do que fomos

Teu peito se levanta
O seio subindo tão lento

É a última vez
Que respira

Em minhas costelas

Seguro tua mão
Com o respeito que devemos
Ao que morre

Aproximo o ouvido de tua boca
Que já fica sem cor

Mas você
Não tem nada a dizer

Everton Behenck

Alguém
Nesse exato momento

Tira
A própria vida

Como se dissesse
Nas entrelinhas

Algo que só pode ser dito
Nesse sacrifício

Algo que a voz não alcança
Que a palavra

Não sabe

Que não cabe na boca
Mas que pensa, pensa, penso.

Remoendo

Com a insistência do peso
Apesar dos preços

Um protesto
No silêncio

Do peito

Uma reação extrema
Ao grande dilema

Um esvaziamento
Do que nunca passou
De um copo vazio
Para dar de beber

À sede

Essa decisão de não fazer parte
Do óbvio

Despropósito
Da carne

E do tempo

Admiro quem se mata
Por respeito

A si mesmo

Everton Behenck

E aqui estamos nós
Um sempre a bater
À porta do outro

Na hora exata do tombo

Quem determinou esse encontro?

Aparentemente
Tão diferentes um do outro

Tão distantes

Aparência, sonhos, planos

E no entanto
Aqui estamos

De novo

Abrindo cartas
Seladas
Na sinceridade do que sentimos

Escritas com a letra
Do que sofremos
Levadas por esse carteiro
De passo em falso

Que é o tempo

Ele que te perdeu
Outro que te perde
Mesmo te tendo

Ela da qual fugi há tanto tempo
Quando fui me esconder em ti

Essa agora
Que me teve tanto
E ainda assim me fez partir
Mesmo sem me ferir

E aqui?

Estamos nós dois
Nós e as partes partidas de nós
Nós e o que fomos

Mudando

Nós e isso que somos
Isso que temos

Onde sempre nos reconhecemos
Mesmo no que mudamos
Mesmo no que perdemos pelo caminho

Para onde vai essa trilha?
Quem diria?

Quem não ficaria surpreso?

Ao saber a idade
Dessa intimidade?

Quem poderia supor
Esse tipo de amor

Quem sabe até onde vamos?
Quem sabe até quando?

Talvez algumas coisas
Muito grandes
Como a eternidade

Só caibam mesmo na amizade

Everton Behenck

Você é minha melhor parte
Menina

Onde a alegria
Se completa

Onde me melhoro

Quantas vezes
Já me encontrei em teu colo

E você foi meu cuidado
E me encontrei em teu afago

Você é minha sorte
Menina

A melhor companhia
Para atravessar o dia

A melhor maneira de ver a vida
É saber o que há em tuas mãos

Que seja meu gesto

O que há em teu rosto
Que seja meu sonho

Não há o que alcance o tamanho
E a altura

Da tua força e da tua doçura

Você menina
É minha cura

Everton Behenck

Só podia dar nisso
Amigo

Tratar uma vadia
Como a mulher da sua vida

Só podia terminar desse jeito
Parceiro

Você com essa raiva
De todo o gênero

Feminino

A mulher é um vício
Amigo

É preciso muito cuidado
A mulher é um destino

Inevitável

Mas você é o culpado

Everton Behenck

Quero olhar nos olhos
Do esquecimento

Pedir que me devolva
As páginas arrancadas

Não lembro direito
Da infância

Do carinho paterno

Da atenção de sua barba
O esquecimento deve ter posto
Essas lembranças no bolso

Quando meu pai foi embora

Mas agora
Quero de volta

Já perdoei sua ausência
E o espaço para elas está limpo

A espera

Não recordo do primeiro beijo
Deve ter sido sem jeito

Devo ter mordido os lábios
Ou pode ter sido

De despedida

Mas já tive tantos amores
Em minha vida
Que essa dor
Se é que foi

Doída

Já está redimida

E já posso conhecer seu rosto

Não me lembro do primeiro choro
Em que me doía

A vida

Já aprendi a tirar alegria
Do dia
E plantar flores na ferida

Queria que o esquecimento
Me devolvesse os começos

Everton Behenck