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Preciso escrever um poema
Mesmo que nada em mim

Tenha um rosto
Para virar

Em direção ao verso

A cidade pressente a treva
E a noite não é mais

Que um diluvio de sombra

Mas preciso urgentemente
Escrever um poema

Antes que escureça

Meus olhos
E minhas mãos

Não seguram
A palavra que passa

A ausência me impede
Com sua mão enorme

E sou como um boneco
De ventríloquo

Que ninguém manipula

Os olhos abertos
E a face muda

Os computadores todos escrevem:
Não há poesia

Mas preciso escrever um poema
Com a urgência

De quem sangra
Sem que se perceba

Preciso escrever
Esse poema

Para que ele me convença

Everton Behenck

O pequenino ser

Corre sempre em frente
Nunca para

Salta como pode
Sobre toda sorte

De obstáculos

Agarra moedas no ar
Preciosas

Encontra e perde
Jóias

Mas de repente
Em um momento ele erra o passo

E cai no vazio

Ou então passa correndo
E o trajeto acaba

E ele se perde no nada

Game over

Engraçado
Como é igual

Na vida

Everton Behenck

Eu devia ter morrido
Embriagado de vicio

Eu devia ter partido

Em mil pedaços
Os olhos exaustos

Eu devia ter visto
Um túnel

Iluminado

Mas só enxergo
Os flashes eternos

Os momentos
De prazer e sofrimento

E o som fervendo a noite
Noite a dentro

Eu só me vejo
Correndo

Na velocidade
Do que pretende voar

E partir

Eu devia morrer
E morri

Mas ainda estou aqui

Everton Behenck

Eu e minha falta imensa
De poesia

Eu e minha loucura adormecida

Eu e minha vontade
De comer a tarde

Cravando as unhas

Rasgando nos dentes
A calma aparente

Eu e minha terapia ocupacional
Para proteger uma mão da outra

Eu e minhas porções integrais
E frutas frescas

Recém arrancadas
De uma terra sem alma

Eu e minha fraqueza
Na pele arrasada

Nas mãos que já não tremem
Nem acenam um beijo

Eu e minha vontade insana
De revirar a cama e os livros

E derrubar uma parede atrás da outra
Só com a força do pensamento

Eu e esse outro de mim
Preso

Everton Behenck

Cuspa em um estranho
Na rua

Passe a mão na bunda
De uma mulher casada
Ao lado do marido

Faça consigo

O que não quer
Para os outros

Explique a um louco
Os valores da família

Mostre a um pai
A sangria

Das narinas

Faça o dia
Virar noite

A noite
Ser tarde

Faça parte
De uma seita

Depois se converta

Apague um cigarro
No braço

Depois derrame bebida
Na ferida

Reprima a atitude
Depois siga

A vontade reprimida

Exponha suas partes
Mais íntimas

E ria
Da própria agonia

Everton Behenck

Fazei com que eu tenha força
Para carregar esses músculos
E litros de sangue

Que tem o peso imenso
Do tempo

Correndo

Me permita ter fé
De que a natureza

Sem saber o que é justo
Fará o que é preciso

E me conceda a graça
De ser perdoado

Porque não acharei justo ou certo
Meu fim

Por mais natural que seja

Me conceda paz
Sem que isso signifique

Cuspir a voz
Desistir do olhar
Ou de uma certa fé

Particular

Pelas coisas
Que os homens fazem

Simplesmente
Porque não sabem

Não me deixe
Levantar a ira

Sobre o que não tem culpa
De existir

E sendo assim
É completamente inútil

A ira

E não gostaria
De arrastá-la

Pela vida

Me permita
Amar um pouco mais

Seja isso
Um sorriso no escuro
Ao deitar

Ou apenas uma maneira
De expandir as costelas

De uma forma
Que não seja percebido
Apenas o oxigênio

Do lado de dentro
Do peito

Desejo
Que me seja concedido
Um último pedido

Que guardarei em segredo
Como se tivesse a força
De quem ainda acredita

Em orações

Everton Behenck

Um bígamo
Fiel

Um santo
Dos pecados

Alcançados

Um ateu
De vela

Acesa

Um poeta
Completo

Analfabeto

Uma puta
Que tira a aliança

Antes de ir
Para a cama

Uma criança
Que nos ensina

Filosofia

Um bêbado
Mais sóbrio

Que muitos caretas

Com suas caretas de dor
Quando gozam

Um tiro
Que era mesmo

De misericórdia

Everton Behenck