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O vento varre
Com uma fome
De ciclone
Até o último canto
Da memória
Tudo se agarra
Ao que pode
Mas nada pôde
Deter
Vestidos
De vertigem
Todos passam
Voando
Desperdiçando
Suas crenças
Em orações
Pedidos de amor
Cobranças
De toda a esperança
Ausente
E não lembro
Direito
Se os sorrisos
Eram desespero
Ou saudade
E de súbito
O fim do vão
O chão
Era uma porta
Fechada
Everton Behenck
Você pode me levar
Em sua caminhada
Senhor 12 anos
Pode me incluir em seus planos
De nunca parar
Mesmo cambaleando
Que só assim me equilibro
Na corda bamba dos anos
Você pode encher o copo
Senhor Red Label
Que meu espelho espera
Ao menos
Um pouco menos
De peso
Nos olhos
Que voltam sempre ao mesmo
Cubo de gelo
No copo vazio
Há espaço
No seu passo
Alcoólico
Para o que sobra do sóbrio?
Everton Behenck
Guarde seus dentes
Quero falar
Com a palavra
Delicada
Do seu idioma
Com o lábio
Delicado
Da sua boca
Com o sorriso
Mesmo impreciso
Mesmo sofrido
Na ausência
Disso tudo
Que é importante
Para que a face
Não amargue
Quero falar
Da oração
Dos teus cílios
Cruzados
Nesse instante
Único
Em que você não sente
O que sabe
Nessa intuição que fala
Da mais pura
Falta
Everton Behenck
A colher toca
A sopa
O aroma
Chama
Lembranças
Hoje não há amor
Só fome
Everton Behenck
Será possível
Que vou passar
O resto da vida
Escrevendo sobre isso
Essa falta de sentido
O despropósito
Do amor e do ódio
Em sua equivalência
Essa grande e derradeira
Besteira
Em que cela estou preso
Por esse crime
Que ainda não cometi
Onde diz
Que é assim que deve ser?
Que não sei ler
Nenhum dos seus livros
Nem dos crentes
Nem dos físicos
São todos inimigos
Da verdade
No altar da universidade
Ou em uma certeza de joelhos
Somos todos aquele cego
Na praça
Ouve a música
Uma ou outra palavra
Mas não vê nada
Everton Behenck
Me encanta tanto
A lembrança
Da infância
A menina de tranças
Que beijou o rosto
Junto à boca
E fez amor nas roupas
Com um abraço
(Nenhum depois desse
Teve o mesmo significado)
A briga decisiva
O sangue nas gengivas
A lágrima na camisa
Em uma violência bonita
Os soldados em linha
Mortos pela artilharia
Que saia da boca
Que a pouco chorou um dente
De leite
Quebrado por um cabo
Do exército inimigo
Mordido para cumprir sua sentença
De perder a cabeça
E que antes disso
Esteve de castigo
Olhando o menino
Que brincava sozinho
Escrevendo um livro
Em sua cabeça
Me encanta tanto
A lembrança
Da infância
Pena eu nunca ter sido criança
Everton Behenck
Eu já fui
Quase inocente
Já estive a ponto
De ficar louco
De novo
Já estive morto
Por uma tarde inteira
E adoeci de poesia
Por uma vida
Já chorei
Sozinho e de joelhos
Em frente ao espelho
Como condiz
A quem não sabe
Negar a face
Da tristeza
Já sofri de delicadeza
E já vi a beleza
Se desfazer sobre uma mesa
Palavra por palavra
E não sobrar nada
Para pegar com as mãos
Amarguradas
Já estive tão perto
De um amor sincero
Que nasceu um jardim
Mesmo em minha sombra
E essas flores eu pisei com o idioma
Já fui tão feio
Que me tranquei no escuro
Morrendo de medo
De mim mesmo
Já estive tão sereno
Que pensei por um momento
Que sabia o que estava fazendo
Não mesmo
Everton Behenck
É tarde
Para me arrancar
A poesia da carne
Com os dentes de um beijo
É tarde para descobrir
Se há mesmo
Um amor aí dentro
Ou se tudo foi um jeito
De dar mais dignidade
A tua vaidade
É tarde para inventar
Sentido
O infinito já está perdido
Nesse labirinto
De brilho efêmero
Enfermo
Quantos sentimentos
Se perderam
Nas paredes do ressentimento
Sempre perdemos
Para nossos próprios medos
Everton Behenck
Esse meu desajeito
Para as coisas do peito
Aprendi a desconfiar
Antes de cada
Bater de asas
Não sei
Desabotoar as costelas
Só as calças
E ainda assim
Queria tanto me vestir
De ti
Esteja onde esteja
Quem quer que seja
Me receba
Com aquela velha frase
De que tudo se ajeita
Na beira daquele velho abismo
De que tudo é possível
Em um amor bonito
Everton Behenck
Me conte uma história
De amor bonito
Para eu procurar
Algo parecido
Aqui dentro
Que já faz tanto tempo
Que não vejo
Esse sentimento
De pertencimento
A alguém
E não há outra beleza
Nem outro sentido
Que me seja permitido
Preciso amar
Urgente e aflito
Preciso do precipício
No colo feminino
Desse exílio
No seio
Antes que eu acabe esquecendo
Everton Behenck