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Um cabo de guerra
Com o pensamento

De um lado
Um verso para ler

Do outro você

Everton Behenck

Mastigo esse choro
Espero que alimente

A barriga vazia
De sonhos

Mastigo o choro

Ruminando
O sentimento

Lamentando

Sua falta de sentido
Enraivecendo

Todos os momentos

Em que me dei
Sem preço

E me arranharam
A superfície

Dos olhos

Mastigo esse choro
Na saliva amargando

Meus planos

Everton Behenck

Não quero que lhe doa
A brutalidade dos meus olhos

Olhando os cacos
Dos teus sonhos

Sonhar é sempre
Um ato estranho

De renúncia

Não quero que sinta
O frio na espinha

Ao ver que a vida
Sempre se vinga

Mesmo que a culpa não seja sua

A maldade anda sempre nua
E sempre convida entre as pernas

Sempre tão fácil
Excitar seus atos

Natos
Em nossa natureza

O homem não consegue
Esconder os fatos

Que denunciam
Sua incapacidade

De olhar a verdade
Aceitar sua finitude

O homem é rude
Em sua essência

De bicho
Indefinido

Maldito
Na (im)possibilidade

De humanidade

E não preciso
Que me lembre

Sempre

que sou isso

Everton Behenck

Fica
Esse pressentimento do orgasmo
O falo

Duro
Essa impossibilidade insana
Da cama

Resta
Essa condescendência com a
Memória

A imaginação
Em sua ereção entrando lentamente
Entre tuas pernas

Resta
O movimento imaginado do quadril
Circular

Ciranda
Da cama despida de pudores
Das cores

O vermelho
Sangue na veia pulsando desejos
Secretos

Tocando
O fundo do colo colorindo
Os olhos

De brilho
Do corpo movendo os seios
No ritmo

Inteiro
Que a mão impõe à nuca
Os dedos

Buscando
O conhecimento de cada canto
Secreto

Até que
Na boca atira-se toda a convulsão
Do corpo

Que goza
Entre os lábios despidos do idioma
Uma lembrança

Everton Behenck

Quero ver sob o vestido
Como uma criança
Descobrindo o sentido

Entre as pernas

Quero olhar entre as coxas
Como um menino

Que não sabe exatamente
Porque tiram as roupas

Nos filmes

Que ainda não sabe
Onde acaba

A dureza em seu corpo

Quero olhar de novo
E de novo em seguida

Como quem não acredita

Como quem procura uma explicação
(Com os olhos, com a boca e com as mãos)

Everton Behenck

A entrevista do Alegria da Influência.
Como entrevista:nada. Mas como tem a leitura de um verso, coloquei lá.

Quero plantar
Entre tuas pernas

Raiz na terra

O calor ereto
Passado do feto

Quero entrar inteiro

Cabeça
Corpo
E membro

Quero te dizer
Junto ao seio
A língua líquida

O atrito da saliva
Dissolvendo o peito
Em um gemido

Quero gritar
De dentro ti

Em um idioma desconhecido
Um pedido perdido
De exílio

Everton Behenck

A vida é linda
Quando tudo isso
Que te digo

Perde o sentido
Em um beijo

E só precisamos
De uma língua
De um seio

De uma cama

De um gemido
De bicho

Para esquecer
Que somos
Humanos

E que isso
É estar à margem

Sofrendo na linguagem.

Everton Behenck

A vida
É bela justamente
No que esconde

Quando não explica a fome
Quando derrama sangue

Sem razão

É linda no choro
Falso e público

De uma tragédia privada
Televisionada

É linda

Quando uma última palavra
Não diz nada

Quando um homem se mata
Sem deixar bilhete

Ou razão aparente

É bonita
Quando alguém não acredita

E mesmo assim
Ama, grita e chora

E ignora os fatos

E se engana repetindo alto
Uma mentira
Que vira

Verdade

Só para que o peito se acalme
(a verdade não é para os covardes)

É bela
Na fragilidade
De precisar da eternidade

Para suportar esse segundo

Esse
Que agora
Mora

Na palavra anterior

E que é sempre
Um lembrete

Da morte

Everton Behenck

Queria não ter para falar
Essa voz

Grave

Endurecendo
O sentido de cada

Palavra

Não quero fraturar o futuro
Quando escrevo:

Passam as horas
E vivemos sempre o mesmo

Tempo

Não quero que pensem
Que a vida não é boa

É linda mesmo que doa
Em seu sentido de pedra

Na janela

Everton Behenck