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Não espero que nosso amor
Quebre seus ossos
Para caber em outro corpo
Não vou forçar
A reencarnação
Temos nossas próprias
Cores inóspitas
E não pretendemos
Transformar um no outro
Para que eles se anulem
Eu existo
Para que você exista
E hoje
Nenhum de nós liga
Para as coisas que nos separam
Sem que nos afastem
Não somos metades
Nem a terra prometida
Somos humanos
E isso é ter algo faltando
Não somos o que se encaixa
Nem o que se completa
Alguns lugares foram feitos
Para ficarem vazios
E ficarão
Não somos
Almas gêmeas
Ela fala com seu anjo
Enquanto eu
Enfio o dedo no nariz de deus
Não pertencemos um ao outro
Sendo que a vida pode nos tirar
A qualquer hora
Sem maiores explicações
E isso
Faz toda diferença para mim
Nós não somos um casal de novela
Nem impressa
Nem das oito
Nós não somos espelho
Um do outro
Não olho para ela para me ver
Olho para ela para vê-la
Mas isso não impede que ela seja
Uma espécie de versão de mim
Que existiria em algum universo
Paralelo
Somos um encontro
Fundador na vida do doutro
Nós
Nos inauguramos
Somos o hemisfério esquerdo
E direito
Do mesmo cérebro
Somos o exato instante
Do ataque
Epilético
Depois
Somos o remédio
Everton Behenck
Aquele menino
Já sabe o que é
Não ter paz
Sente
Que dentro de si
O tempo passa
Muito mais rápido
São anos correndo
Em seu choro lento
Nasce dentro do menino
O homem
Dentro do homem
O velho
Aquele menino
Tentando falar
Por entre os restos
De dignidade
No gesto desesperado da mãe
Frente ao silêncio do pai
Aquele menino
Tentando ser justo
Na balança dos lábios
Pequenos
Não quer marcar ninguém a ferro
E como queimam
As palavras das crianças
Aquele menino
Mede suas lágrimas
De criança farta
E vai passar a vida
Dizendo que não foi nada
Mas serão incontáveis as vezes
Que pensará nisso a noite
E logo se voltará
Para as pequenas coisas da casa
A mulher amada
O filho que terá um dia
Mas que agora
Não passa de uma criança
Feita de sombra
Aquele menino
Que levanta as mãos
E as abaixa
Com a pressa mágica
De sentir-se capaz
De dizer com o ar
Aquele menino que está
A milhares de quilômetros de mim
Tentando conciliar os pais
Dentro de si
Aquele menino
Onde alguma coisa
Se perdeu
Sou eu
Everton Behenck