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Você acredita em deus?
Acha que há algo mais santo
Quem um homem bom em seu pranto?
Você acredita no diabo?
Acha que há algo
Mais maligno
Que um sorriso
Fingido?
Você acredita no espírito
Infinito?
Há algo mais longínquo
Que um beijo despido
De posses?
Olhai e entendei
Irmãos
Está tudo aqui no chão
Everton Behenck
Sou essa água
Que não pode ficar parada
Azeda
Transmite as mais diversas
Doenças
A tranquilidade não me acalma
Contamina
Engulo os dentes
Na implosão de uma palavra
Meu equilíbrio se abala
Quando tudo para
De girar
É sempre preciso
Mais
Vertigo
E se acabarem os motivos
Reviro
Meu lixo
Everton Behenck
Para aquele velho
Branco
Era preciso
O exotismo
Dos seus cabelos
Negros
Para ela
Era afrodisíaco
Seu dinheiro
Ele queria um porre
De juventude
Entre as pernas
De um samba
Ela queria
Ser um pouco estrangeira
De si mesma
E no fim das contas
O mais engraçado
É que ele era seu escravo
Everton Behenck
E se eu escrever
Saudade
E a palavra
Trocar de sentido
Repetindo
Ausência
E se eu disser: um beijo
E a palavra se tornar
Esquecimento
Enganando meus dedos
Se eu disser essa vontade
Bem alto para não ter erro
E a voz trocar as letras no vento
E eu gritar: lamento
O que eu estaria dizendo?
Everton Behenck
E se eu me esconder
Em cada
Palavra
E se eu estivesse
Construindo uma muralha
Na porta de casa
E se fosse uma prece?
E se tudo viesse
De uma só vez
E batesse bem no meio
Do meu medo
E eu sobrevivesse
Que feliz
Que eu fosse
Everton Behenck
Quem teria paciência
Para escavar minha cabeça
Abrir com as unhas
Uma imagem cheia de espinhos
Bêbada de vinho
Quem tem tempo
Para arredar as frases
E encontrar o que digo
Perdido nos cantos
Cambaleando
Os desencontros
Sempre a ponto
De cair em desgraça
Na melhor das hipóteses
Quem tem vontade
De girar o disco
Para ouvir o que canto
Contrário
Nesse pacto anti-horário
Quem sujaria as mãos de terra
Para colher minhas flores
Sem cor ou perfume
Quem molharia um olho
Emprestando alegria em segredo
Enquanto um inseto me devora os dedos
Quem atravessaria
Meus gestos secos
Fugindo dos dentes
Da minha palavra
Quem diria sim
Me entregando a alma
Mesmo sabendo que não acredito
No espírito
Só no exorcismo
Everton Behenck
A noite
Tem seus ecos
Seus tecos
Seus trechos
De ser estreito
No que a memória
Consola
Com o esquecimento
A noite chama
Todos os seus bichos
No intuito
De que eles te devorem
A noite forte
Como a gente chama
Não é mais que uma imagem
Na parede
É sempre uma reprise
De nitidez cada vez mais
Xerox
Everton Behenck
E se de repente
Esse amor
Virar uma tremenda
Dor de estômago
Uma visão
Endoscópica
De uma ferida
Imaginária
Quem será a pílula antiácida?
Everton Behenck
Quero algo que guarde
O que há de milagre
Na tarde
Sempre dizendo um texto
Se desfazendo
No tempo
Lembrando
Que atravessamos o dia
Sem nenhuma justificativa
Quero algo que guarde
O que há de milagre
Na mulher que dança
A nossa frente
E enche a vida de motivos
Para estar vivo
Quero algo que retenha
Por um minuto que seja
A beleza
Do flerte inocente
Do gozo forte
Entre as pernas
Da boca no seio
Ela mordendo
O lábio
Na fome dos olhos
Quero muito
Algo que segure
Por apenas um segundo
O que há de milagre
No que sonhamos
Quando fechamos os olhos
Pela última vez
Everton Behenck