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Você acredita em deus?
Acha que há algo mais santo

Quem um homem bom em seu pranto?

Você acredita no diabo?

Acha que há algo
Mais maligno
Que um sorriso

Fingido?

Você acredita no espírito
Infinito?

Há algo mais longínquo
Que um beijo despido

De posses?

Olhai e entendei
Irmãos

Está tudo aqui no chão

Everton Behenck

Sou essa água
Que não pode ficar parada

Azeda

Transmite as mais diversas
Doenças

A tranquilidade não me acalma
Contamina

Engulo os dentes
Na implosão de uma palavra

Meu equilíbrio se abala
Quando tudo para

De girar

É sempre preciso
Mais

Vertigo

E se acabarem os motivos
Reviro

Meu lixo

Everton Behenck

Para aquele velho
Branco
Era preciso

O exotismo
Dos seus cabelos
Negros

Para ela
Era afrodisíaco
Seu dinheiro

Ele queria um porre
De juventude

Entre as pernas
De um samba

Ela queria
Ser um pouco estrangeira

De si mesma

E no fim das contas
O mais engraçado

É que ele era seu escravo

Everton Behenck

E se eu escrever
Saudade

E a palavra
Trocar de sentido

Repetindo
Ausência

E se eu disser: um beijo
E a palavra se tornar

Esquecimento
Enganando meus dedos

Se eu disser essa vontade
Bem alto para não ter erro

E a voz trocar as letras no vento
E eu gritar: lamento

O que eu estaria dizendo?

Everton Behenck

E se eu me esconder
Em cada

Palavra

E se eu estivesse
Construindo uma muralha

Na porta de casa

E se fosse uma prece?
E se tudo viesse

De uma só vez

E batesse bem no meio
Do meu medo
E eu sobrevivesse

Que feliz

Que eu fosse

Everton Behenck

http://poemadia.blogspot.com/

Quem teria paciência
Para escavar minha cabeça

Abrir com as unhas
Uma imagem cheia de espinhos

Bêbada de vinho

Quem tem tempo
Para arredar as frases

E encontrar o que digo
Perdido nos cantos

Cambaleando
Os desencontros

Sempre a ponto
De cair em desgraça

Na melhor das hipóteses

Quem tem vontade
De girar o disco

Para ouvir o que canto
Contrário

Nesse pacto anti-horário

Quem sujaria as mãos de terra
Para colher minhas flores

Sem cor ou perfume

Quem molharia um olho
Emprestando alegria em segredo

Enquanto um inseto me devora os dedos

Quem atravessaria
Meus gestos secos

Fugindo dos dentes
Da minha palavra

Quem diria sim
Me entregando a alma

Mesmo sabendo que não acredito
No espírito

Só no exorcismo

Everton Behenck

A noite
Tem seus ecos

Seus tecos

Seus trechos
De ser estreito

No que a memória
Consola

Com o esquecimento

A noite chama
Todos os seus bichos

No intuito
De que eles te devorem

A noite forte

Como a gente chama

Não é mais que uma imagem
Na parede

É sempre uma reprise
De nitidez cada vez mais

Xerox

Everton Behenck

E se de repente
Esse amor

Virar uma tremenda
Dor de estômago

Uma visão
Endoscópica

De uma ferida
Imaginária

Quem será a pílula antiácida?

Everton Behenck

Quero algo que guarde
O que há de milagre

Na tarde

Sempre dizendo um texto
Se desfazendo

No tempo

Lembrando
Que atravessamos o dia

Sem nenhuma justificativa

Quero algo que guarde
O que há de milagre

Na mulher que dança
A nossa frente

E enche a vida de motivos
Para estar vivo

Quero algo que retenha
Por um minuto que seja

A beleza

Do flerte inocente
Do gozo forte

Entre as pernas

Da boca no seio

Ela mordendo
O lábio

Na fome dos olhos

Quero muito
Algo que segure
Por apenas um segundo

O que há de milagre
No que sonhamos

Quando fechamos os olhos
Pela última vez

Everton Behenck