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O desespero
Desse apartamento

O vazio dos quadros
Se perdendo na memória das paredes

E como amavam
Os quadros apaixonados

As portas agora
Eternamente fechadas

Mesmo estando abertas

As portas
Já não levam a nenhum lugar

A tristeza do closet
Marcado pela mudança repentina

Não estão as roupas
As bolsas

Os sapatos

O espelho quebrado
As prateleiras arrancadas

Os parafusos retirados
E seus buracos

Ulcerados

A casa se alimenta
Dos restos que ficaram

Um pouco de lenha
Um frasco de remédio
Um grampo de cabelo

Os brinquedos da Cora
Repetindo que ela foi embora

O desespero desse apartamento
Sabendo que tudo ali dentro

Está perdendo o sentido

E logo
Estará fechado e vazio

O desespero desse apartamento
Nos esquecendo

Everton Behenck

Preciso terminar
De morrer

De uma vez

Que assim
Aos poucos

Tem doído tanto

Os olhos abrindo e fechando
Pela última vez

Sem realmente deixar de ver

A morte e a doença
E a tristeza lustrando o caixão

Carregando flores
Acendendo velas

Com a mão dela

Não pode ser
Essa coisa

De vida pingando
A conta gotas

Preciso acabar de morrer
De uma vez

Para voltar a viver

Everton Behenck