You are currently browsing the monthly archive for março 2014.
O desespero
Desse apartamento
O vazio dos quadros
Se perdendo na memória das paredes
E como amavam
Os quadros apaixonados
As portas agora
Eternamente fechadas
Mesmo estando abertas
As portas
Já não levam a nenhum lugar
A tristeza do closet
Marcado pela mudança repentina
Não estão as roupas
As bolsas
Os sapatos
O espelho quebrado
As prateleiras arrancadas
Os parafusos retirados
E seus buracos
Ulcerados
A casa se alimenta
Dos restos que ficaram
Um pouco de lenha
Um frasco de remédio
Um grampo de cabelo
Os brinquedos da Cora
Repetindo que ela foi embora
O desespero desse apartamento
Sabendo que tudo ali dentro
Está perdendo o sentido
E logo
Estará fechado e vazio
O desespero desse apartamento
Nos esquecendo
Everton Behenck
Preciso terminar
De morrer
De uma vez
Que assim
Aos poucos
Tem doído tanto
Os olhos abrindo e fechando
Pela última vez
Sem realmente deixar de ver
A morte e a doença
E a tristeza lustrando o caixão
Carregando flores
Acendendo velas
Com a mão dela
Não pode ser
Essa coisa
De vida pingando
A conta gotas
Preciso acabar de morrer
De uma vez
Para voltar a viver
Everton Behenck