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Tenho medo
Dessa tarefa
Trágica
De olhar para dentro
Da vida
E não correr porta a fora
Everton Behenck
Não lembro
Do primeiro
Beijo
Nem o que me disseram
Os lábios
Quando se calaram
Em outra boca
Era um menino
De muita idade
Naquela época
Já havia perdido ela
Há muito tempo
E até hoje
Em todo verso
De amor
Que escrevo
Invento seu beijo
Everton Behenck
*poema que eu fiz respondendo uma pergunta da querida Angelica Seguí no blog Gaveta das Calcinhas
http://wp.clicrbs.com.br/gavetadascalcinhas
Amanheci no rosto
Dela
Que escreveu
Com a pele
O que significa
Meu nome
E não o que ditou
O escrivão de cartório
Analfabeto
Ela trouxe
Na luz dos dentes
Um jeito diferente
De dizer
Intimidade
Sem que tenhamos
Sido apresentados
Casal de cegos
Tudo dito em braille
Fluente
Espelho antepassado
Onde me vejo
Inteiro
E só consigo
Dizer em um gemido
Repetido como um mantra
Anterior a nós
E desse passado
Invocado pelo tato
Vem esses laços inexistentes
Que nos amarram
Mulata, pele escura
Dente branco
De repente era eu
Orfeu
Eu que nunca fui rei
Longe mim
Conquistei em ti
Um continente
Apesar de todas as estatuas
Terem sido erguidas
Em tua homenagem
Você criou esse pais
Idioma, moeda, regras
Língua
Para que eu reinasse
Soberano
Eu que só pedia
Asilo entre tuas pernas
De repente estava
Nesse exílio
No quarto mais antigo
Da casa da infância
Minha quarta
De cinzas
Depois de ti
Nada
Meu soneto
De carnaval
Rima mais bonita
Verso livre
Como nunca tive
Sigo meu caminho
Te levando comigo
Segue teu caminho
Que eu vou te seguindo
Everton Behenck
*citação do poetinha e seu Monólogo de Orfeu.
Quantos iguais
A ti
Serão necessários
Até não ser mais possível
Negar
Que estamos unidos
Pelo peito
Irmão
Esquerdo
Teu santo e o meu
Não são os mesmos
Mas dançam no mesmo
Terreiro
Sob a mesma raiva
Na fumaça da mesma vela
Quebrada
Na história que rezamos
Mal contada
Para que soe mais bela
Eu também invento a vida
Mas tu é mais poesia
Todos os santos
Não são suficientes
Para tantas correntes
Um sofre o que o outro sente
E nenhum dos dois entende
Te compram e te vendem
E te deixam sempre
Eu te ouvia
Chorar a menina
Que te fez escravo
Enquanto eu
Também me acorrentava
A pele escrava
Por escolha
Não há salvador
Para a gente
Amigo continente
Só a esperança
De um bom fim
Absurdo
E divino
Nas costas marcadas
De um pelourinho
Everton Behenck
*Para o amigo Wil. Que mora na rua, fala francês e inglês e não vai ter chance nenhuma.