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Como eu queria te ver um dia
Contar da alegria
Nos olhos
Do choro contido
Do perigo
De viver inteiro
E sentido
Não precisaria
Nem mesmo resposta
Só um olhar
De calçada
Depois da chuva
Everton Behenck
Tenho tanto medo
De desejar o peito inerte
E ser ouvido
E no último segundo
Estar arrependido
Sem passo atrás
Ou adiante
Tenho esse medo constante
De estar certo
Em meus versos
Tenho medo de viver
E morrer logo à frente
Com um olhar ausente
De quem nunca esteve
Tenho medo e desejo
Na mesma proporção
O céu e o chão
Everton Behenck
Toma esse pedaço
Recém arrancado
Engole
Enquanto está quente
Esse presente aos teus dentes
Esse sorriso vermelho
De joelhos
Aos teus pés
Engole esse pedaço
Mastiga com força
Para que cesse de doer
Sente o gosto
Disposto a te adoçar
Agridoce
Água e sal
Passa tua língua
Firme
No que escorre
Para que nade escape
Toma esse pedaço
Recém arrancado
Da carne mais rara
Da minha palavra
Everton Behenck
Uma mulher de botas
Nos coloca
Sob o passo
Subjugados pela perna
Sintética
Uma mulher de botas
Nos coloca
Sempre em seu caminho
Deitado nos trilhos
Tentando desesperadamente
Fechar o cadeado
De todas as correntes
Antes que ela chegue
Everton Behenck
Não sei nada
Além de abrir cada poro
Da pele
Para que qualquer um atravesse
E nem sei para que isso serve
Quem quer saber
O que corre em outra veia?
Quem quer ver
Esse lugar onde o sol
Só sabe se pôr?
Quem poderia depor
A meu favor?
Quando o espelho
Me acusar
De alta traição?
Sei muito pouco
Da vida
Da morte
A certeza
Mas não sei o que significa
Não estar no outro dia
Não saber da voz
Que chamaria meu nome
Com uma dor enorme
Dessas que não dormem
Não ter nem que fosse
Uma única certeza
Um amor de pedra
Para atirar na janela
Não saber da vela acessa
Queimando meu nome
Sei muito pouco
Quase nada além da dúvida
Em cada pensamento
Em cada sentimento
Estrangeiro
Todos são bem vindos
E suspeitos
Estão todos convidados
Para um trago
Estão todos convidados
A descobrir comigo
Em um sorriso etílico
Que tudo
Uma hora
Se iguala
Porque o primeiro momento
Foi um só
E foi o mesmo
Para tudo
Não existe
O primeiro
E o segundo
Não há pódio
Para o amor e o ódio
Tomarem seus lugares
Existem milhares de possibilidades
Onde a matemática
Não cabe
Onde o amor não pode
Mais que um verso
Então desfaça
Essa sabedoria da cara
Que a gente não passa de uma farsa
Pena que eu não saiba
O que espero?
Há tanto tempo
Sentado ao relento
No sentido
De cada palavra
Olhando o céu
Esperando que a verdade caia?
(sei que poderia ser tão idiota)
Preso ao chão
Esperando alguém que não volta?
Não creio
Talvez esperando alguém que não veio
Para me fazer inteiro
Mesmo sabendo
Que essa metade
É tudo que temos
Talvez eu não passe
De mais um que ainda não sabe
Que não existem milagres
Everton Behenck
Gosto do que há embaixo
Da pele
Subcutâneo
Emaranhado na veia
O medo enterrado
Com todo o cuidado
Nos punhos fechados
Gosto do submundo
Onde a puta ostenta
O dinheiro e suas ofensas
Enquanto o amor espera
Enterrado em seus ovários
Onde um bêbado
Chora álcool
Corroído de lágrimas
No estômago
Onde um menino espera
A infância
Soterrado em uma montanha
De pedras
Acesas como velas
A um santo
Subhumano
Na fé ao avesso
Gosto do que é submerso
Isso
Que não chega à tona
Dito sem sombra de dúvidas
No franzir do rosto
No amanhecer dos dentes
No olhar de quem sopra
Um café quente
Gosto tanto
Do que é subterrâneo
Essas coisas
Que se encontra cavando fundo
Mais fundo
Tão fundo
Peito a dentro
Everton Behenck
Do labirinto
Não me interessa a saída
E sim o caminho
As paredes espessas
Que o olhar não atravessa
Os becos
A seta
Que nunca leva
Para onde aponta
Me interessa acalmar o passo
Porque a pressa
Cega o caminho
Do labirinto
Me interessa a volta
Tortuosa
Que não significa
Mais que sua curva
Que leva a olhar
Atrás de si
E nas próprias costas
Reconheço
Cheio de afeto
Um Eu inverso
Everton Behenck
Buenos Aires 05/07/07
Eu preciso
Me esconder em um poema
Só um pouco
Só dois versos
Só uma palavra
Quem sabe:
Salvação
Preciso me refugiar
Em um sentido
Bonito
Para fugir um minuto
Do repórter
Que corre ao meu encontro
Com a foto de uma mãe chorando
Depois que alguém
Divide conosco
Um filho morto
Só é possível voltar á tona
Do dia
Mergulhando um pouco
Em poesia
Se escondendo lá embaixo
Até que o ar volte
Preciso ser covarde
Só pelo tempo que cabe
Nessas frases
Espere
Que logo
Volto
À coragem
Everton Behenck
O amor
Não é isso
Que você sente
Quando o comprimido
Faz efeito
(Você pode tomar o comprimido
só não faça para amar)
O amor
Não está
Na matemática
De nenhuma boca
É o conceito
Do zero
Ao quadrado
O amor não é
Um estado de espírito
Não há visto de entrada
O amor não é para chegar
O amor não é isso
Que você disputa
A noite inteira
Na lágrima
No gozo
Ou no cuspe
O amor não está
O amor acenou da porta
Escreveu nos dentes
Mas não há grau primário
No amor
O amor
Não é coisa que se diga
Everton Behenck
Cabe em mim
Um tango
Sob a chuva
Fina
De uma cidade íntima
Que me é estranha
Há espaço
Entre minhas costelas
Para um bandoneon
Rezar até a última nota
Que seu fole sopre
Bons ares
Buenos Aires 21/04/07
Everton Behenck