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O desespero
Desse apartamento

O vazio dos quadros
Se perdendo na memória das paredes

E como amavam
Os quadros apaixonados

As portas agora
Eternamente fechadas

Mesmo estando abertas

As portas
Já não levam a nenhum lugar

A tristeza do closet
Marcado pela mudança repentina

Não estão as roupas
As bolsas

Os sapatos

O espelho quebrado
As prateleiras arrancadas

Os parafusos retirados
E seus buracos

Ulcerados

A casa se alimenta
Dos restos que ficaram

Um pouco de lenha
Um frasco de remédio
Um grampo de cabelo

Os brinquedos da Cora
Repetindo que ela foi embora

O desespero desse apartamento
Sabendo que tudo ali dentro

Está perdendo o sentido

E logo
Estará fechado e vazio

O desespero desse apartamento
Nos esquecendo

Everton Behenck

Ela esmaga
Com os cílios

Cada uma das quatro letras
Da palavra perfeita

Ela quebra meus dedos
Com seus cabelos

Para que minha mão não escreva
Este poema

Ela agride o que sinto

Para ter certeza
Da sua presença

Ela deseja estar

Sem entender
Que nunca se ausenta

Tudo que faço
Digo e sinto

Tem sido por ela

Mesmo quando fica irreconhecível
E vocifera

Palavras que nunca
Nasceriam entres suas costelas

Ela
É prisioneira dela

E eu

Sou seu colega
De cela

Everton Behenck

Eu ganho outras cores
E as vezes a escuridão intensa

Do que se apresenta

A vida sempre será imensa
Para quem a perceba

Eu ganho os sentidos
Despidos

Ao mínimo indício
Do vento vivo

Que sopra suas notas

E também a surdez
Da palavra torta

Eu ganho a possibilidade
De estar além do que se vê

Mas quem disse que é bonito
O que está escondido

Eu ganho o que é quase imperceptível
Mas quem disse

Que aquilo que quase não se percebe
Não é capaz de matar o que antes era alegre

Eu ganho a possibilidade linda
De ver tudo o que a vida

Muitas vezes não explica

E em troca sofro de forma explícita
Aonde ninguém mais sofreria

Everton Behenck

Poema resposta para que minha querida amiga Julia Duarte utilizasse em uma aula.

O que você está fazendo
Agora

Enquanto espero esse avião
Que não decola

Penso em você
Fazendo carinho na Cora

Contando para ela
Que logo estarei de volta

Penso em você
Fazendo as compras para me esperar
Comprando algo que eu goste

Gosto de você
Então me espere

Penso em você
Manobrando os carros

Um ao lado do outro
E nós separados

Penso em você
Comendo algo na cama

Enquanto eu falo uma língua
Estranha

Penso em que tipo de flor
Você colocou na sala
Enquanto arrumo minha mala

Penso no que vai nascer
Desse tempo que ficamos separados

Algo que só irá nos contar
O abraço

Berlim, Junho 2013.

Everton Behenck

Nessa casa
Mora a alegria

E o amor da vida

Nessa casa
Toda tristeza

Que é nossa

Se transforma
E nos revigora

Nessa casa

O piso doído
Os pratos quebrados
As lágrimas derramadas

Servem para lavar o chão
Servir o pão
E varrer os olhos
Da mulher amada

Nessa casa

Mora
Dorme e acorda
Nossa história

Já fomos loucos
E rudes um com o outro

Já fomos doentes
E já derrubamos todas as paredes

E nada muda o amor da gente
Nenhum caminhão para em nossa porta

Para levar a mobília do afeto embora

Nessa casa mora
O que nos alimenta
E o que nos consola

Um homem

Muitas vezes estúpido
Como todos os outros
Mas capaz de amar
E doer de amor

Como poucos

Uma mulher
Muitas vezes insana
Como tantas outras

Mas capaz
De iluminar de amor
Um vitral de cacos

Com os olhos fartos

Um cão
Sem educação
Como tantos filhotes

Mas capaz de repousar a cabeça
No silencio da nossa tristeza

Nessa casa
Mora a alegria

Nessa casa
Mora

O amor da vida

Everton Behenck