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De que adianta
Saber
Quantos centímetros
De afeto
Cabem em teu abraço
É só osso e pele
sob a roupa
É só força motora
De que adianta
Os mílimitros cúbicos
De carinho
No vazio da tua boca
É só ar retido
Em teu suspiro
De que importa
Tuas pernas abertas
Se entre elas
Só cabe
Um gemido
Everton Behenck
Uma buzina grita
Ao longe
E sem saber que vida aperta
O volante
Nem porque
O som se faz presente
Em sua natureza pura
Não há a afetação da vida
Em sua harmonia
Um som despersonalizado
É mais que um chamado
Um aviso
Um pedido
Um som despersonalizado
É metafísico
Everton Behenck
Com a lentidão dos dentes
Mordendo
Em uma fome estática
Com a raiva dos dedos
Enterrando a força
Na pele
Com a vontade
De quem não consegue
Com a velocidade
De quem espreita
Ao pé da partida
Uma despedida
Com o desejo sincero
De que tudo se quebre
Ao menor toque
Com a força de um abraço
Pesado
Abra o corpo
Lento
E olhe lá dentro
Everton Behenck
Nós que somos
O rangido do balanço
De onde não caiu
O menino
Nós que somos
A areia sob o banco da praça
Onde uma moça encontrou
Quem esperava
Na hora marcada
Nós que somos
A fumaça do cigarro
De um velho
Que não morrerá de câncer
Nós que somos
A aliança do marido
Que nunca foi traído
Nós que somos o ruído
Do sono de uma criança
Quando não sonha
Nenhum pesadelo
Nós que somos o segredo
Que não destruiria
Nenhuma família
Nós que somos
Sem que ninguém saiba
Everton Behenck
Penso em você
Como quem perdeu
Algo de seu
Há muito tempo
E só restou
O movimento
Do que foi tirado
Repetindo a falta
A minha volta
Diariamente
Penso
Como quem tenta
Deixar de ser
Mesmo sabendo
Que não será possível
Romper consigo
Everton Behenck
E de repente
Ao andar na rua
Ao abrir uma porta
Para uma senhora
Morta
Ao cumprimentar um amigo
Que já não parece consigo
De repente
Ao olhar a mãe
E não se ver lá dentro
Ao ver que um filho
Seria uma dor
Impossível
De repente
Ao acenar com a cabeça
Uma condescendência
Indigna
Ao ver a agonia
Como um capricho
E o vício
Como o único batimento
Cardíaco
De repente ao implodir os dentes
Na palavra indizível
De repente
Na mínima recusa ao espelho
De repente
Ao menor medo
De estar irreconhecível
Ao menor estalo
De realidade nos ouvidos
De repente ao menor ruído
De um amor perdido
Me vejo vivo
E respiro
Aliviado
Everton Behenck
(que bom voltar a escrever aqui. beijo a todos! feliz ano novo atrasado!)