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Calma amigo
Esse buraco
Que você cava
Não tem fundo
E acontece de gastar
Tuas unhas
Teus dedos
Intuindo o medo
Teus olhos querendo
Esse horizonte
Que nunca se aproxima
Há uma linha de partida
Mas não há chegada
Você anda para o nada
Porque a pressa?
Everton Behenck
Nessa sexta a Casamadre toca em Sampa. No Estúdio Emme.
E no sábado em Porto no Garagem Hermética.
Vamo rock!
Beijos.
Ameaço o tempo de morte
Com um minuto
Pontiagudo
Que ele próprio
Recém quebrara
Se atreva a cometer
Mais um instante
Se atreva a me envelhecer
E a maltratar meus dias
Esquecidos agora
Na imensa distância das horas
Ameaço o tempo
E ele chora
Enquanto uma raiz
Cresce sob a terra
Uma unha se alonga
Um cabelo cai
E dentro de uma mulher
Cresce uma criança
Enquanto dentro de um homem
O jantar se desintegra
Ameaço o tempo
De morte
E ele chora
Sem conseguir dizer
Que é do tempo
Morrer
Everton Behenck
A mão toca a nuca.
Leve como a busca de algo
Que sabemos estar lá.
Os dedos entre os cabelos.
Procurando acalmar o tempo.
É preciso estancar as horas.
Agora.
Uma noite apenas é o bastante.
Mas nunca será o suficiente.
Deite-se.
Para tirar das roupas a entrega.
Peça por peça.
A nudez é uma declaração de amor
Completa.
Um beijo ao lado da boca.
Outro nos lábios.
Não será necessário
Nada
Além do que o beijo fala
Um mais.
No pescoço.
Outro no colo.
A mão segurando o seio.
Com a força necessária ao desejo.
Os dentes mordendo o peito.
Na medida da fome.
Mais a baixo.
O quadril se movendo
No ritmo de uma música
Que ninguém ouviria.
A boca no início da coxa.
E mais a baixo.
Calmo como o que é inevitável.
O caminho traçado.
A língua buscando o gosto
Um movimento de quem descobre
E é descoberto.
Leve e lento.
Percorrendo.
Aquele pequeno ponto
Em teu corpo.
Onde me encontro.
Everton Behenck
Um dia
Não serei mais
Que um livro na estante
Uns poucos centímtros
De limbo
Perdido
O absoluto nada
Que é a página
Fechada
Um dia
Serei esse espírito
A ser lido
E quem sabe
Em uma tarde
Em que chove
Um médium entre na sala
E sem nada que lhe explique
Me ressuscite
Everton Behenck
Por esperar delicadeza
Me declaro
Culpado
Por acreditar mais na poesia
Que na vida
Me declaro
Culpado
Por intuir o amor
Com mais certeza
Do que intuo a crença
Me declaro
Culpado
Por escolher deliberadamente
Ferir
Antes de mentir
Me declaro
Culpado
E frente aos fatos
Só tenho em minha defesa
Esse poema
Everton Behenck
Ternura e violência
Gêmeas
Uma se esconde
Onde a outra
Se ausenta
A luz e sua sombra
Ambas são um idioma
Um tapa
Pura ternura
Um beijo
Cheio de violência
Não esqueça
Que todo amor
Por natureza
É bilíngue
Everton Behenck
Come da fruta
Para que ela
Dentro de ti
Seja outra
Mais pura no gosto
De revirar o estômago
Seja outro
De dentro para fora
Fruta adentro
Há um mundo
Germinando
A polpa
O suco
Gástrico
O ácido
O espaço de semente
E carne
Onde tudo que você é
Pode
Come da fruta
E morde
Everton Behenck
Foi ótimo. Um evento de poesia em uma terça feira à meia noite. Livraria lotada.
Só no Rio mesmo. Conheci muita gente boa. Novos e queridos amigos.
Obrigado Shala.
Obrigado João.
O corujão é DEMAIS.