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É preciso
Amar o outro

Ao ponto de manda-lo
Embora

É preciso amar o outro
E não o que ele lhe causa

Quem ama o amor do outro
Não está amando

Quem ama o prazer que sente
Não está amando

Quem ama o gozo
Que emana do outro

Não está amando

Quem ama no outro
Suas próprias qualidades

Não ama nem a metade

Quem ama os defeitos que o outro
perdoa

Não ama
Se confessa

Quem ama
Por promessa

Não tem fé

Quem ama por decreto
Nunca ama certo

Quem ama a vaidade
Que o outro lhe devolve

Acreditará que ama enorme

Quem ama o que o outro
Absorve

Se julga forte

E ama doente

Quem ama a fraqueza do outro
Pelo gozo do cuidado

Ama sua bondade
Não ao outro

Quem ama tudo o que entrega
Ama sua generosidade

E isso é bonito
Mesmo não sendo amor

De verdade

Quem ama mais do que pode
Ama o excesso
E o que isto custa

E por isso ama
Ter esta carta na manga

Quem ama
Mentindo a si mesmo

Ama a imagem que inventa
E tudo que ela representa

Quem ama sem que o outro queira
Ama ao contrário

A vontade alheia

Quem diz que ama
O tempo inteiro

Ama o som de sua voz

Quem ama a sós
Sabendo disso

Ama a solidão
Em sua fidelidade

Quem ama o que o outro
Não reparte

Ama sua pouca sorte
E se orgulha dela

Quem ama a fidelidade
Ama a ideia

De controlar o sexo
E com o sexo a vida

E com a vida o tempo

E nada nos afasta mais do amor
Do que ser deus

Só ama de verdade

Quem ama o outro
Até quando o outro

Parte

Desde que a Maria disse a primeira vez um poema meu eu penso nisso.
Em um poema que ela dissesse antes de qualquer um ler. Que fosse assim escrito com a voz dela. Então numa noite daquelas em que tu passa por todos os sentimentos me acontece esse poema. E eu meio bêbado não penso duas vezes. Mando pra Maria no meio da noite mesmo, sem revisar nem nada. E ela gravou. E ele ta aí.

E ainda me ajudou a passar a limpo pra chegar no que eu queria dizer.

Com uma palavra me deu ainda mais voz. Valeu Maria.

Depois eu posto o texto pra quem quiser.