You are currently browsing the monthly archive for janeiro 2015.

Poema da morte
E da fome

Poema da miséria
Nos olhos

Da pobreza nos dedos

Poema do medo
De nós mesmos

Eu que nunca
Fui covarde

Tremo inteiro
E me assusto

E olho para todos os lados
Como quem não sabe

De onde veio o golpe

A morte sempre chega
De surpresa

E tudo morre

Todos sabemos
E mesmo assim

Não entendo

O corpo não entende
Os órgãos internos não entendem

O espírito
Se existisse

Não entenderia

Poema de areia
Movediça

Engolindo toda estrada
Que leva de mim

Para o nada

Há pouco eu tinha um destino
De olhar definitivo

Já não tenho

Poema do vício absurdo
E do tremor nas mãos

E da abstinência

Poema drogado
E convulsivo

Poema que me torna menino
E fraco

Poema mendigo

Poema doente
De afeto

Poema da lágrima
Que implode

Olho adentro

Não choro
Estou seco

Poema perdido
No tempo

Que não nos demos

Poema da crueldade
E da vilania

Que é matar o amor por asfixia

A grande montanha

Me ensinou uma lição

Tamanha

A grande montanha
Me despersonalizou

Deixei de ser
Para sê-la

Esqueci todas as palavras
Esmagadas pelo seu silêncio

Denso

A grande montanha
Desintegrou tudo que penso

Mostrou como sou pequeno
E imenso ao mesmo tempo

Ja que toda a montanha
Cabe dentro de mim

A grande montanha

Inventou a paz
E a atirou sobre nos

Como uma bomba

Chile/15

Amar o vento
É entender que não sabemos

Quando se aproxima
Nem porque termina

Amar o vento
É se declarar ao invisível

Sem saber se está sendo ouvido

E não ver nenhum mal
Nisso

O amor quando precisa
Ser dito

Nem sempre precisa
Ser ouvido

O amor sempre tem
O direito

De existir em si mesmo

Amar o vento
É nunca tentar contê-lo

É saber usá-lo
Para inflar as velas

Saber ir aos remos
Quando o perdemos

Amar o vento

É saber guardar para sempre
A lembrança

Da tarde mais quente

Em que ele soprou mais forte
E espantou a morte

E a morte é o tédio
E o tédio

É o contrário do vento

Amar o vento
É amar o movimento

Entender o ritmo das árvores
E o verde em sua música

Amar o vento

É saber dizer adeus
Às nuvens

É abrir mão dos seus desenhos
Para nunca perdê-los