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Poema da morte
E da fome
Poema da miséria
Nos olhos
Da pobreza nos dedos
Poema do medo
De nós mesmos
Eu que nunca
Fui covarde
Tremo inteiro
E me assusto
E olho para todos os lados
Como quem não sabe
De onde veio o golpe
A morte sempre chega
De surpresa
E tudo morre
Todos sabemos
E mesmo assim
Não entendo
O corpo não entende
Os órgãos internos não entendem
O espírito
Se existisse
Não entenderia
Poema de areia
Movediça
Engolindo toda estrada
Que leva de mim
Para o nada
Há pouco eu tinha um destino
De olhar definitivo
Já não tenho
Poema do vício absurdo
E do tremor nas mãos
E da abstinência
Poema drogado
E convulsivo
Poema que me torna menino
E fraco
Poema mendigo
Poema doente
De afeto
Poema da lágrima
Que implode
Olho adentro
Não choro
Estou seco
Poema perdido
No tempo
Que não nos demos
Poema da crueldade
E da vilania
Que é matar o amor por asfixia
A grande montanha
Me ensinou uma lição
Tamanha
A grande montanha
Me despersonalizou
Deixei de ser
Para sê-la
Esqueci todas as palavras
Esmagadas pelo seu silêncio
Denso
A grande montanha
Desintegrou tudo que penso
Mostrou como sou pequeno
E imenso ao mesmo tempo
Ja que toda a montanha
Cabe dentro de mim
A grande montanha
Inventou a paz
E a atirou sobre nos
Como uma bomba
Chile/15
Amar o vento
É entender que não sabemos
Quando se aproxima
Nem porque termina
Amar o vento
É se declarar ao invisível
Sem saber se está sendo ouvido
E não ver nenhum mal
Nisso
O amor quando precisa
Ser dito
Nem sempre precisa
Ser ouvido
O amor sempre tem
O direito
De existir em si mesmo
Amar o vento
É nunca tentar contê-lo
É saber usá-lo
Para inflar as velas
Saber ir aos remos
Quando o perdemos
Amar o vento
É saber guardar para sempre
A lembrança
Da tarde mais quente
Em que ele soprou mais forte
E espantou a morte
E a morte é o tédio
E o tédio
É o contrário do vento
Amar o vento
É amar o movimento
Entender o ritmo das árvores
E o verde em sua música
Amar o vento
É saber dizer adeus
Às nuvens
É abrir mão dos seus desenhos
Para nunca perdê-los