You are currently browsing the monthly archive for dezembro 2008.

A vida é uma vadia
Que te rouba a carteira

A vida é uma freira
Que levanta o hábito

É uma santa
De olhos fechados

Uma criança mimada
Contrariada

A vida é uma professora
Que não sabe nada

De didática

A vida é uma virgem
Cheia de tédio

Entre as pernas

A vida é uma velha
Sem paciência

Em sua inocência

A vida é uma menina
Onde tudo ainda

Brilha

A vida é uma puta
Apaixonada

E fiel

A vida é uma adultera
Cheia de certeza

Em sua frieza

A vida é uma mulher
Doente de beleza.

Everton Behenck

Ando fugindo da metáfora
Da imagem poética

Da palavra inventada

Ando de saco cheio
E pronto

E anda difícil
Levar o peso

Preso ao passo

São essas pessoas
Que não entendem nada

Que fazem tudo ao contrário
E pelos motivos errados

São esses homens

Que valem tão menos
Que suas roupas

Que brilham tão menos
Que seus carros

São esses dias roubados
Da minha vida

E mais ainda

É saber que viro
O rosto

Para que eles saiam
Sem sobressaltos

Everton Behenck

Tenho medo
Dessas grandes palavras

Tão pesadas:

INFINITO

DEUS

AMOR

SENTIDO

Tenho medo disso
Que elas carregam consigo

São sentenças
E nos cabe cumprir essas penas

Nós
Que somos tão minúsculos

Nós
Que não sabemos

Nós
Que somos tão analfabetos

Do tempo

Everton Behenck

Hoje postei meu primeiro texto lá no Poema Dia.
Já tem muita coisa legal por lá. Se alguém quiser conferir, o link tá ali do lado.

Não te machuca
Tanto

O fato
De eu ser pontiagudo

E sim o ângulo
Dos meus olhos

No horizonte

Quando penso
Denso

E você acha
Que invento
Outra

Em minha cama

Ou quando toma
Até minha última gota

São os motivos errados
Não é amor

É despreparo

Então não perca
Nosso tempo
Não force sua natureza

Cresça e desapareça

Everton Behenck

Meu zelo
É pela palavra não dita

Pelo carinho
Intuído

No gesto desfeito

Que às vezes
É mais que um beijo

Meu apego
É pelo pedido da mão

Se aproximando lentamente
Em seu silêncio
De gente

Que não sabe dizer

Meu ofício
É escrever essas palavras
Escondendo seu sentido

Para que só
E quem sabe

Você saiba

Everton Behenck

Era em teu perfume
Que eu entrava com força

Cada vez mais duro
Muito mais fundo

Era esse cheiro
Que eu perseguia com o beijo

Por teu corpo
Adentro

Com a língua
Infinita

E você tremia
E gozava forte

Segurando meus cabelos

Mas era o cheiro
Que me mantinha inteiro

Ao teu lado

Porque era ela
Naquele frasco

Everton Behenck

Vivemos

Uns pelos outros
E não há outro motivo

Atravessamos
O dia
Através da alegria

Dentro da tristeza
Alheia

Valemos a pena
No outro

É ela com seu beijo
Que me legitima a boca

E só na sede da sua língua

Sou água
Necessária

É no abraço do amigo
Chorando um coração partido

Que justifico meus braços
As mãos no afago

É por ela que não conheço
Que existe o próximo passo

É pra isso o alcance
Dos olhos

É para que meu pai
Tenha um espelho

Que não caio de joelhos

Para que minha mãe suporte
Que não mostro meus cortes

E curo as horas
Uma a uma

Com um cuidado
Dedicado

Porque é na pele dela
Que estão minhas feridas

E é sua alegria
Que me cicatriza

Estamos sempre
Vivos

Nos outros

E meu pedido de socorro
É que eles fiquem mais um pouco

Everton Behenck

Você me machuca
Com sua doçura

Me fere
Com a ponta dos cabelos

Me corta ao meio

Você me ulcera
Quando se entrega

Tanto

Você me deve
O que cobra

E a marca
Em minhas costas

É não poder pedir
De volta

Everton Behenck

Hoje entra no ar o Poema Dia.
Um projeto que vai reunir um monte de gente diferente das mais diversas idades e dos mais diversos lugares.
Cada um adotou um dia do mês para escrever alguma coisa. Acho que no fim de um mês vai ter uma reuninão interessante de textos. Com seus contrastes e semelhanças.

O meu vai ser o dia 15.
Para quem quiser conferir:

http://poemadia.blogspot.com