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Ando com saudade
Da montanha russa
Dos sentidos
Da roleta russa
De puxar o gatilho
E ouvir o estampido
No ouvido
Ando com saudade
Das emoções
No máximo volume
Amplificadas
Amarradas nas cordas
Vocais da madrugada
Ando com raiva
Dessa paz exacerbada
Por toda essa calma
Retificada
Prendendo
Todos os meus bichos
Mais que os vícios
Everton Behenck
Não sei exatamente
Onde
Deitar o corpo
Ao cair da noite
Não sei bem
Que cama
Chama
Que mulher
Me ama
E qual me consome
Combustível
Inflamável
Infalível
No seio farto
De espera
Não sei bem
Quem era ela
Nem onde estivera
Antes
De me colocar inteiro
Na boca
E me tornar
Seu idioma
Everton Behenck
Hei soldado
O que há debaixo
Do brilho inoxidável
Do seu aço?
Hei soldado
Quanto fardo em sua farda
Quem explica
Sua guerra?
Diária
Quem vela
Suas mortes?
Onde estão suas fronteiras?
Que cabeça está
Dormindo em sua cabeceira?
Quem salvará o soldado?
Fadado
Everton Behenck
Não me diga beijos
Que minha boca
Demorou muito
Para escondê-los
Na sala dos fundos
Do peito
E hoje
Seria preciso
Partir as costelas
Para tirá-los
Lá de dentro
Não envie abraços
Passados
Que para tirar teus braços
Da minha cintura
Foi preciso a amargura
Das mãos
E na palma
Ainda está marcado
Um amor crucificado
E não ofereço mais
A nenhum Deus
Esse sacrifício
Não envie teu corpo
Tua sede
Que para desfazer teu seio
Em meus lábios
Foi preciso um século inteiro
De celibato
De desencontro
Em outros corpos
E tornar agora
Àquela cama
Me tiraria o sono
Por mais mil anos
Não me traga agora
De volta
Teus olhos
Que não faz muito tempo
Que voltei a ver meus olhos
No espelho.
Everton Behenck
Mande um verso
Escrito nessa saia
Um verso que te mostre
Entre as pernas
Mas que não diga só isso
Diga que é preciso amor
Mande escrito
No tecido
Um gemido
Mas não diga só isso
Diga que é necessário
Um carinho nos cabelos
Um beijo sincero
Antes de desfazer o mistério
Das roupas
Mande uma frase salvadora
Na saia branca
Uma frase que te diga as coxas
Mas que também fale outras coisas
Que conte que sexo
Ainda não é estar perto
Everton Behenck
É repousar
A mão
Na palavra alheia
É dividir a luz
Nos dentes
Mudar de endereço
Aguardar em qualquer CEP
Sua correspondência
É pregar minutos
Nos dedos
Respirar tempo
Falar no entreletras
Repetir sempre
O mesmo verso
Surpreso
De um autor
Desconhecido
É ser isso
Que não cabe
Recipiente
É isso
Que os cílios conversam
Noites inteiras
A colheita da ternura
A caligrafia
Da delicadeza
Mesmo na letra
Mais sofrida
Minúscula
É abrir mão
Para abrir os braços
É o beijo
No lado oposto
Do próprio rosto
Everton Behenck
Todas essas pessoas
Em volta
Tomo suas bocas
As visto
E suas línguas
Me esculpem as costas
Sua imagem
São minha palavra
E não consigo dizer nada
Everton Behenck
Tiro tua saia
Com calma
Deixo a luz
Tocar as pernas
Deixo a mão
Descobrir a pele
E o tempo
Esquece
O beijo
Entrega
Lábios
Emocionados
A boca
Encontra
A outra
O corpo
Procura
O gozo
Fundo no ventre
Querendo a raiz da voz
Que geme
Um fio de luz
Everton Behenck
Procurei
No bolso da calça
Em todas as casas
Estavam vazias
A poeira
Respirando o tapete
A solidão cobrindo a mobília
Procurei na cadeira
De trabalho
Na tela em frente
Na gaveta ao lado
No guardanapo
Onde uma mulher
Escreveu seu telefone
E um nome
Ilegível
Procurei no grito
Mas o desespero
Gritou comigo
Mais alto
Procurei aflito
Em um comprimido
Estava lá
Pude tocar
Mas quando olhei as mãos
Não eram minhas
E tive de esperar por mim
Antes de seguir
Procurei em ti
Não estava
Mas fiz uma parada
Para descansar
Everton Behenck
O mar
É essa memória
Do mundo
A onda repete
O tamanho
Da palavra
Que digo sofrendo
O diminuto
Diminuído
Em minha estatura
De areia
No doer
De vela
O sol nasceu
Diário
Lembrando
Que não sabemos
Caiam os botes
Salva-vidas
Todos ao mar
No rastro daquela luz
Não alcanço
E consolo:
Como é bom ser pequeno
Everton Behenck
Ibiraquera Fevereiro 2008