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A facilidade com que nós
Que sabíamos tão pouco
Um do outro
Criamos e dividimos
Uma vida
Em quatro dias
A facilidade
Com que você inventou meu riso
Dente a dente
A facilidade
Com que tiramos intimidade
Rapidamente
De um sofá antigo
Dos primeiros capítulos
De uma série de tv
Que eu nunca voltaria
A ver em outra companhia
A facilidade
Com que eu coube
Inteiro
No espaço entre teu rosto
E o ombro
Enquanto encontrava
Dentro de ti
Um lugar para nunca mais
Sair
Everton Behenck
Tudo bem
Se eu ficar com medo
Desse excesso
De riso
Dessa câimbra
Cômica
No rosto
Pouco importando
O que as rugas
Contam
Acho que deve
Estar tudo bem
Se me assustar um pouco
A naturalidade com que passamos
Dos limites
Um com o outro
Everton Behenck
Ficou amedrontado
Como é comum
A quem não sabe
Ficou cheio de espaços
Vagos
Como é comum a sua idade
E não teve certeza
Se preencheria
Sua vida
Como é comum a todos
Porque somos
Sempre os mesmos
Mais ou menos
Ficou acuado
Pela falta de certezas
Pela ausência
De uma convicção que seja
Que convença
Ficou abraçado
Ao ar que saía quente
De seu peito
Que agora
Não é mais que uma estrutura
Óssea
Ficou com raiva
Como é comum a quem olha
Para fora
E talvez essa seja a história
De todo mundo quando chora
Everton Behenck
Descobri que um amigo
Tem a mesma mania que você
Rir ao fim de cada frase
Quando fala ao telefone
E por isso
Esse amigo
Se tornou o mais querido
Percebi que a colega de trabalho
Olha para o nada
Com olhos de um formato
Arredondado
Que me lembram os seus
Por isso
Ela me parece
Muito mais atraente
O gerente do banco
Tem um carro
Cor e modelo idênticos
Ao que você dirige
Por isso ir ao banco
E estacionar ao lado dele
É quase um presente
Minha prima tem um filho
E mesmo sendo menino
Me lembra sua sobrinha
Nos gestos de criança
E isso trouxe um acréscimo
De afeto
Pelo garoto
O gato do vizinho ao lado
Mia
E parece você brincando
De dizer não
Miando
E apesar de toda alergia
Faço um carinho nele todos os dias
E é sua
A pele macia
Uma menina passa em frente a casa
Voltando da escola
Com seus cabelos loiros
E cacheados
E tenho vontade de pegar sua mão
Para atravessar a rua
Pega-la no colo
Arrumar sua gola
Porque ela
Poderia ser nossa
Everton Behenck
Saudade é provocar o amor
Até não aguentar mais
Como em uma propaganda antiga
De refrigerantes
Saudade
É cutucar o amor
Com vara nenhuma
É o medo do amor
Não ser o mesmo
Quando a gente acorda
É o medo de ter a mão
Devorada
Por uma fera
Sem que ela saiba
O que significa
O que está engolindo
Saudade
Quando diz de verdade
É um cisco
No pensamento
Que o outro
Ausente
Não sopra
Everton Behenck