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Sempre há a chance de que tudo seja um erro. Mas o erro faz parte da matéria de que é feita a vida, e é neles que mais aprendemos. Tudo pode ser uma loucura mesmo. O coração tem olhos frágeis. E inventa o horizonte para onde os aponta. As vezes se engana. É cego e analfabeto. E as vezes nem era o coração que estava nos soprando coisas no ouvido. Nos sentidos.

Acontece eu sei. Já vi.

Do amor, seus filhos e parentes eu sei tudo o que é possível. E isso é entender que pouco sabemos. O amor é um mistério tão grande quanto o universo. Mas o amor é meu ofício desde que me entendo homem. O amor é meu lugar no mundo. Já fui amado mais do que qualquer um nessa terra. Com devoção honesta. Com dor e sacrifício. Com loucura e vício. Com prazer de perder o céu e o chão. De encontrar deus. Marquei a ferro muitas vidas. E fui marcado na mesma medida. Com dor e trauma e destruição. Com felicidade de despertar a inveja do paraíso.

O amor é tudo isso. E multiplica seu sentido assim que o descobrimos. Já amei mais do que poderia supor qualquer possibilidade, sanidade ou autopreservação.

Eu não me preservo. Eu já morri de amor. Eu sou louco e queimo até que não sobre nada além das cinzas. E dessas cinzas eu tiro força e energia o bastante para sair do que sobrou da fogueira com um diamante no peito. Eu não tenho medo. E teria todos os motivos para tê-lo. Ainda caminho sobre a terra arrasada. Mas tenho certeza que serei sempre mais forte quando deixa-la. Eu já perdi tudo. Fiquei sem nada no mundo. Sem nenhum pertence.

Por amor.

Se alguém tem motivos para correr na direção contrária, sou eu. Mas eu não corro. Por amor eu faço tudo. Poderia ser o primeiro a ficar torcendo por uma chance de voltar atrás. De correr para um lugar seguro. De voltar para a zona de conforto.

Mas onde é a zona de conforto quando se está amando?

O amor só é conforto depois que ele próprio olha para você e percebe o quanto está entregue e vulnerável. O quanto é incapaz de se defender. O quanto não quer se proteger enquanto atravessa as dúvidas e a angústia. Para descobrir o que há do outro lado. O amor é sempre um lugar onde a gente nunca esteve. O amor inventa dentes assustadores e sorri com eles. Só para ver se temos coragem de entrar em sua boca. E só então beber seu beijo.

O amor não é para os fracos. O amor não é para quem morre de medo. Para quem precisa estar no comando. O amor é a própria ordem. Por isso até os planos são supérfluos nesse momento. O amor muda o sentido da bússola. O amor se apossa da casa. Troca a fechadura.

Eu entendo quem foge. Eu entendo que o amor fique mais raro e assustador na media em que avançamos nesse século de apaixonados pelo espelho. Entendo que menos pessoas o reconheçam. Ou que simplesmente não se importem. E que não achem valer a pena assumir os riscos. Pagar o preço. Provavelmente não vale. Eu entendo quem se preserva. Quem se protege. Quem escolhe o lugar seguro.

Eu entendo. E quem sou eu para dizer que estão errados? Não sou exemplo se não de que amor não mata. Na maior parte das vezes. Só tenho a meu favor o que dizem meus olhos.

Mas quem se arriscaria para vê-los de perto?
Eu entendo quem vira as costas. Quem dá de ombros.

O amor é o quarto e é a rua. Ao mesmo tempo. E é claro que tudo fica mais fácil sem o amor. O amor é um saco e só atrapalha o que estava certo e calmo. O amor é um cão dos diabos, já dizia o velho poeta bêbado com um pássaro azul no peito.

O amor pode não dar certo. Mas só ele pode nos dar tudo.