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O que você está fazendo
Agora
Enquanto espero esse avião
Que não decola
Penso em você
Fazendo carinho na Cora
Contando para ela
Que logo estarei de volta
Penso em você
Fazendo as compras para me esperar
Comprando algo que eu goste
Gosto de você
Então me espere
Penso em você
Manobrando os carros
Um ao lado do outro
E nós separados
Penso em você
Comendo algo na cama
Enquanto eu falo uma língua
Estranha
Penso em que tipo de flor
Você colocou na sala
Enquanto arrumo minha mala
Penso no que vai nascer
Desse tempo que ficamos separados
Algo que só irá nos contar
O abraço
Berlim, Junho 2013.
Everton Behenck
A Não Editora lançou os Dentes da Delicadeza no formato e-book.
E por apensas R$7,90.
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Preciso escrever um poema
Mesmo que nada em mim
Tenha um rosto
Para virar
Em direção ao verso
A cidade pressente a treva
E a noite não é mais
Que um diluvio de sombra
Mas preciso urgentemente
Escrever um poema
Antes que escureça
Meus olhos
E minhas mãos
Não seguram
A palavra que passa
A ausência me impede
Com sua mão enorme
E sou como um boneco
De ventríloquo
Que ninguém manipula
Os olhos abertos
E a face muda
Os computadores todos escrevem:
Não há poesia
Mas preciso escrever um poema
Com a urgência
De quem sangra
Sem que se perceba
Preciso escrever
Esse poema
Para que ele me convença
Everton Behenck
Quem não conhece Maria Rezende, deveria.
Essa poeta carioca, além de escrever lindamente, diz poesia de um jeito. Mas de um jeito. Mas de um jeito.
Se eu pudesse trocava de poeta para dramaturgo da Maria.
Conheça a moça aqui: http://mariadapoesia.blogspot.com.br/
O pequenino ser
Corre sempre em frente
Nunca para
Salta como pode
Sobre toda sorte
De obstáculos
Agarra moedas no ar
Preciosas
Encontra e perde
Jóias
Mas de repente
Em um momento ele erra o passo
E cai no vazio
Ou então passa correndo
E o trajeto acaba
E ele se perde no nada
Game over
Engraçado
Como é igual
Na vida
Everton Behenck
Eu devia ter morrido
Embriagado de vicio
Eu devia ter partido
Em mil pedaços
Os olhos exaustos
Eu devia ter visto
Um túnel
Iluminado
Mas só enxergo
Os flashes eternos
Os momentos
De prazer e sofrimento
E o som fervendo a noite
Noite a dentro
Eu só me vejo
Correndo
Na velocidade
Do que pretende voar
E partir
Eu devia morrer
E morri
Mas ainda estou aqui
Everton Behenck
Eu e minha falta imensa
De poesia
Eu e minha loucura adormecida
Eu e minha vontade
De comer a tarde
Cravando as unhas
Rasgando nos dentes
A calma aparente
Eu e minha terapia ocupacional
Para proteger uma mão da outra
Eu e minhas porções integrais
E frutas frescas
Recém arrancadas
De uma terra sem alma
Eu e minha fraqueza
Na pele arrasada
Nas mãos que já não tremem
Nem acenam um beijo
Eu e minha vontade insana
De revirar a cama e os livros
E derrubar uma parede atrás da outra
Só com a força do pensamento
Eu e esse outro de mim
Preso
Everton Behenck
Eu te trouxe
Esse medo honesto
De sonhar tão alto
Mas também trouxe
O desenho ingênuo
De um par de asas
Para que você as invente
Comigo
Eu te trouxe o perigo
E o alivio
Que é sentar-se à sombra
De outra pessoa
Pouco importando que doa
A eventual fratura
Do futuro
São bonitos os planos
Mesmo quando não os realizamos
Mas para que você não pense nisso
Eu trouxe essa fé
Que eu fiz
Com restos de deus
E outras tantas sobras de demolição
Nao parece muito
Eu sei
Mas imagine quantos pedaços
Desencontrados foram necessários
Para que eu pudesse
Sem nenhuma prece
Construir
Apenas com as mãos
Um milagre
Para que ele
Me salvasse
E assim eu pudesse
Te trazer tantas coisas
Que nem mesmo eu sabia
Que tinha
Everton Behenck
Entrarei no taxi
Rumo ao aeroporto
E ao descer estarei em frente a tua casa
Entregarei o bilhete
De embarque
E meu dedo tocará a campainha
Do seu prédio
Entrarei no avião
E o corredor levará
Ao seu apartamento
Apertarei o sinto
E escutarei teus passos
Vindo
Ao colocar os pés
Em outra cidade
Você me dará a mão
Ao descer as escadas
Esperando o motorista
Abrirei a porta do meu carro
Para que você entre
Entrando no hall
De um hotel estranho
Te pedirei um beijo
Antes de abrir a porta
Da minha própria casa
Largarei a mala
Como se fosse sua bolsa
E deitarei na cama
Como se você estivesse ao lado
Fecharei os olhos
E por um momento
Estarei onde está meu pensamento
Everton Behenck
Vê como é inútil
A torção dos versos
Em sua boca
Ou o silêncio
De teus ossos
Ou o estalo fraturado
De teu passado
Vê como é inutil
A marca do soco
Que te deram
A cor dos dentes
Em teu riso
O equilíbrio dos teus lábios
Fechados
Na medida inexpressiva
Do silêncio
Olha como são inúteis
Os contornos
Do teu rosto quando goza
Ou a força anterior ao gozo
Não é amor
Ainda que seja
E ninguém sabe o que se acomoda
No suor que se renova
Vê como é inutil teu trabalho
Árduo
Que te cobra o quanto paga
Infinitas vezes
Esse sucesso
O eventual dinheiro
A possível cobiça
Tua promoção
Ou tua aposentadoria
O cansaço das tuas mãos
Ao baterem no chão
Vê como é inutil
Teu cuidado
Para não ferir o ente amado
Para odiar com força
O inimigo
Olha teu sangue inútil
O ar inútil nos pulmões
Sem serventia
O quanto é inutil
Teu dia
E o amanhecer dos olhos
Aperta contra o peito
Essa inutilidade
E ela quem sabe
Te console
Everton Behenck