You are currently browsing the monthly archive for setembro 2013.
Se hoje
Consigo ser puro
É porque já estive no fundo
Do fundo do sujo
Já fui vil e mau
E provoquei dores enormes
Com um amor disforme
Se hoje carrego o afeto
Como cicatriz de guerra
É porque já matei e morri
Em muitos corpos
E alguns até hoje se decompõem
Sob minha pele
E existem milhares de cruzes
Em meu olhos
Se hoje consigo
Ser puro
É porque já afoguei meus pés
No escuro
Everton Behenck
Nessa casa
Mora a alegria
E o amor da vida
Nessa casa
Toda tristeza
Que é nossa
Se transforma
E nos revigora
Nessa casa
O piso doído
Os pratos quebrados
As lágrimas derramadas
Servem para lavar o chão
Servir o pão
E varrer os olhos
Da mulher amada
Nessa casa
Mora
Dorme e acorda
Nossa história
Já fomos loucos
E rudes um com o outro
Já fomos doentes
E já derrubamos todas as paredes
E nada muda o amor da gente
Nenhum caminhão para em nossa porta
Para levar a mobília do afeto embora
Nessa casa mora
O que nos alimenta
E o que nos consola
Um homem
Muitas vezes estúpido
Como todos os outros
Mas capaz de amar
E doer de amor
Como poucos
Uma mulher
Muitas vezes insana
Como tantas outras
Mas capaz
De iluminar de amor
Um vitral de cacos
Com os olhos fartos
Um cão
Sem educação
Como tantos filhotes
Mas capaz de repousar a cabeça
No silencio da nossa tristeza
Nessa casa
Mora a alegria
Nessa casa
Mora
O amor da vida
Everton Behenck