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Eu ganho outras cores
E as vezes a escuridão intensa
Do que se apresenta
A vida sempre será imensa
Para quem a perceba
Eu ganho os sentidos
Despidos
Ao mínimo indício
Do vento vivo
Que sopra suas notas
E também a surdez
Da palavra torta
Eu ganho a possibilidade
De estar além do que se vê
Mas quem disse que é bonito
O que está escondido
Eu ganho o que é quase imperceptível
Mas quem disse
Que aquilo que quase não se percebe
Não é capaz de matar o que antes era alegre
Eu ganho a possibilidade linda
De ver tudo o que a vida
Muitas vezes não explica
E em troca sofro de forma explícita
Aonde ninguém mais sofreria
Everton Behenck
Poema resposta para que minha querida amiga Julia Duarte utilizasse em uma aula.
Eu queria mesmo
Era ter Marte em Libra
E tudo que isso significa
Uma vela acesa
Em frente a santa Maria
Rogai por nós
Eu querida ter um galho de arruda
E um copo d’agua
Na soleira da porta
Eu queria a sagrada oração
A carta celeste
E as armas de Jorge
Eu queria as duas mãos ao céu
E a certeza da resposta
Ser avisado em sonhos
Premonitórios
Ter calafrios
E um sexto sentido
Jogar os búzios
Fluidificar a água
Transcender o nada
Eu queria o pai
O filho
E o espírito santo
A remissão dos pecados
Eu queria uma bíblia
Embaixo do braço
Pai
Porque me abandonaste
Eu queria mesmo
A segurança do que é divino
Depois de pagar o dízimo
Mas só conheço
Senhor
Da fé e da vida eterna
Dar todo o amor
Para ela
As vezes
Tenho certeza
Que explodirei a cabeça
Em algum momento
Ou tomarei veneno
Quando ficar velho
E muito mais
Cansado
Paro
E digo
A um grilo surdo
Que mora em meu ouvido
Digo alto
Para que ele repita
Nada mais brega
Que um poeta
Suicida
Everton Behenck
Não espero que nosso amor
Quebre seus ossos
Para caber em outro corpo
Não vou forçar
A reencarnação
Temos nossas próprias
Cores inóspitas
E não pretendemos
Transformar um no outro
Para que eles se anulem
Eu existo
Para que você exista
E hoje
Nenhum de nós liga
Para as coisas que nos separam
Sem que nos afastem
Não somos metades
Nem a terra prometida
Somos humanos
E isso é ter algo faltando
Não somos o que se encaixa
Nem o que se completa
Alguns lugares foram feitos
Para ficarem vazios
E ficarão
Não somos
Almas gêmeas
Ela fala com seu anjo
Enquanto eu
Enfio o dedo no nariz de deus
Não pertencemos um ao outro
Sendo que a vida pode nos tirar
A qualquer hora
Sem maiores explicações
E isso
Faz toda diferença para mim
Nós não somos um casal de novela
Nem impressa
Nem das oito
Nós não somos espelho
Um do outro
Não olho para ela para me ver
Olho para ela para vê-la
Mas isso não impede que ela seja
Uma espécie de versão de mim
Que existiria em algum universo
Paralelo
Somos um encontro
Fundador na vida do doutro
Nós
Nos inauguramos
Somos o hemisfério esquerdo
E direito
Do mesmo cérebro
Somos o exato instante
Do ataque
Epilético
Depois
Somos o remédio
Everton Behenck
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Preciso escrever um poema
Mesmo que nada em mim
Tenha um rosto
Para virar
Em direção ao verso
A cidade pressente a treva
E a noite não é mais
Que um diluvio de sombra
Mas preciso urgentemente
Escrever um poema
Antes que escureça
Meus olhos
E minhas mãos
Não seguram
A palavra que passa
A ausência me impede
Com sua mão enorme
E sou como um boneco
De ventríloquo
Que ninguém manipula
Os olhos abertos
E a face muda
Os computadores todos escrevem:
Não há poesia
Mas preciso escrever um poema
Com a urgência
De quem sangra
Sem que se perceba
Preciso escrever
Esse poema
Para que ele me convença
Everton Behenck
O prodígio de linguagem
Na face apaixonada
A inconsequência dos olhos
Vidrados
O sono desprotegido
O passo emancipado de si
O gesto multiplicado
A bagagem de uma vida
Na mala de viagem
Atravessar o dia
Como a um oceano
Os remos invisíveis
Na água invisível
Enfrentando o vento
Que não vemos
Os dedos escrevendo no ar
As palavras de um idioma
Próprio
Uma oração sem deus ou milagre
E por isso santa e infinita
A boca selada
Pela língua inútil
O amor de todos os amores
Juntos
Na violência onde tudo é criado
A partir do passado
Tudo o que sabemos do amor
E todo o amor que perdemos
Renascendo imenso
No amor que temos
Everton Behenck
Tudo
Lentamente
Dentro de mim
Se petrifica
A voz de pedra
Caindo da boca
Aberta
Dizendo coisas
A si mesmo
Que multiplicam o peso
Sob a pele
Pedra incandescente
Queimando o que antes
Amava livremente
O sonho de pedra
Cada vez mais bruta
De que duas pessoas possam mesmo
Ficarem juntas
Tenho medo
De ser tão concreto
Minhas mãos de pedra
Os dedos de pedra
As costelas de pedra
E a dor imensa
De tirar dos olhos
O pequeno brilho
De um cristal aflito
Everton Behenck
Eu devia ter morrido
Embriagado de vicio
Eu devia ter partido
Em mil pedaços
Os olhos exaustos
Eu devia ter visto
Um túnel
Iluminado
Mas só enxergo
Os flashes eternos
Os momentos
De prazer e sofrimento
E o som fervendo a noite
Noite a dentro
Eu só me vejo
Correndo
Na velocidade
Do que pretende voar
E partir
Eu devia morrer
E morri
Mas ainda estou aqui
Everton Behenck
Então o sol
Vai se expandir
E vai queimar todo o hélio
E hidrogênio
E vai calcinar o planeta
E derreter a superfície
E ninguém que visse
Através de um telescópio distante
Poderia se quer imaginar
Que aquela
Era a terra
Que ali
Existia algo
Chamado humanidade
E que essa
Entidade incerta
Era feita de homens
Everton Behenck