You are currently browsing the monthly archive for outubro 2011.
O amor não irá nos salvar
O amor é forte
Mas ainda não é força
O amor não supera nada
O amor
Só mostra que existe o outro lado
Para que você salte sozinho
O amor não é o ponto de partida
Nem o ponto de chegada
O amor é o caminho
E sobre ele
Só anda quem não teme perder de vista
O amor não é um lugar para pedir abrigo
O amor chove do lado de dentro
O amor não é suficiente
Para que as pernas se movam
Ele é o motivo
Não é o motor
O amor é só um aceno
Quem corre somos nós
Quem precisa ser forte
É a carne não o amor
Quem precisa vencer as barreiras
São as mãos no exercício do carinho
São as palavras na dicção da delicadeza
O amor não justifica nada
O amor é só um vento
Mesmo sendo capaz de mover e revirar
O amor não vai soprar
Em vão por muito tempo
O amor é muito sutil e muito ingenuo
Quem precisa gritar somos nós
Para multiplicar a voz
Nós precisamos dizer através do amor
O amor não falará uma palavra
Ele não fará nosso trabalho
Árduo
O amor virá morar conosco
Mas somos nós
Com as mãos vazias
Que devemos construir a casa.
O amor não precisa de nós
O amor não nos deve fidelidade
Não nos deve respeito
O amor não nos deve nada
O amor pode ir embora
Quando bem entende
E o amor não prende o amor nos dentes
Somos nós
Com nossa pouca imensidão
Que temos de crescer
Nós que só rezamos ao espelho
É que devemos ter fé e doação
O amor não é o santo
Nem a oração.
Nem o milagre
O amor só aponta o dedo e pergunta da porta:
E agora?
Everton Behenck
Ele
Despediu-se
Da esposa
Da sombra
Da árvore
Em frente a casa
Da fruta
Que gostava
Despediu-se
De dúzias de camadas
De afeto desfeito
Do porteiro do trabalho
Com quem havia brigado
Por um carro estacionado
Disse adeus
A cada funcionário
Chato
Olhou para todos
Os lados
E nasceu outro
Em seu choro
Everton Behenck
Será que foram as preces
Que eu não fiz
Que te trouxeram pra mim
Que movimentos imensos
De astros que não vejo
Na órbita limitada
Dos olhos
Te trouxeram
Que destino
Escrito
Nessa língua
Em que sou tão analfabeto
Te pôs perto
Para que eu enxergasse o afeto
Como a aparição
De alguma santa
Que revela segredos
A seus eleitos
E esses
Nunca mais são os mesmos
Que tipo de milagre
Revirou o tempo
Para que uma mulher
Me fizesse voltar a ter fé
Everton Behenck
Entrarei no taxi
Rumo ao aeroporto
E ao descer estarei em frente a tua casa
Entregarei o bilhete
De embarque
E meu dedo tocará a campainha
Do seu prédio
Entrarei no avião
E o corredor levará
Ao seu apartamento
Apertarei o sinto
E escutarei teus passos
Vindo
Ao colocar os pés
Em outra cidade
Você me dará a mão
Ao descer as escadas
Esperando o motorista
Abrirei a porta do meu carro
Para que você entre
Entrando no hall
De um hotel estranho
Te pedirei um beijo
Antes de abrir a porta
Da minha própria casa
Largarei a mala
Como se fosse sua bolsa
E deitarei na cama
Como se você estivesse ao lado
Fecharei os olhos
E por um momento
Estarei onde está meu pensamento
Everton Behenck