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E se eu pensar
Por um momento
Que te vi?
E se vier a mim
Tudo de novo
Num avesso de tempo
Voltando?
E se eu pensar que te vi
E um beijo sair de mim
A tua procura?
E tua boca for outra
E me forem estranhos
Os lábios?
E se eu jurar
Que te vi
Atravessando a rua
Apressada
E se acenar de trás de mim
Esse que te amou
E se essa que você foi
Voltar
Haverá faixa de segurança
Para que ela atravesse?
E seu eu jurar que te vi
Quem irá me desmentir?
Everton Behenck
Estou frágil
O aço
Retorcido
Dos cílios
Desenhando corações
A lápis
Onde os dedos se desfazem
Estou frágil
A ponto de rasgar os braços
Ao menor abraço
Estou fraco
As costas em um arco
Descendente
O peito transpassado
De pesar e passado
Estou frágil
E é fato consumado
Consumido
Pelo que está perdido
E ainda assim presente
O olho ausente
Rente ao meu
Everton Behenck
Eu gritei
Com o mais alto
Dos abraços
E as mãos
Repetiram em seus dedos
Todos os beijos
Eu falei
Em todas as línguas
Entre tuas pernas
E o gozo repetiu
Tanto
Que ficou rouco
Eu disse
Com a calma
Das pálpebras
Fechadas
E elas
Exaustas
Suaram uma lágrima
Everton Behenck
A cama não esquece
O travesseiro repete
A duras penas
O gemido
A cama lembra a boca
Engolindo
Quente
O travesseiro
Pede a mão
Apertando
Enquanto um corpo
Invade o outro
Fundo
Segurando
Os cabelos
Forte
Como se fosse
Morrer ao avesso
Everton Behenck
O sol ardia
E mesmo assim
Não amanhecia
Todos ouvindo
Ainda
O que a noite repetia
Buscando
Mais um minuto
Que evitasse o dia
Em sua agonia
Puxados
Pela mão da loucura
After hours
Ressuscitar a lua
Beijar a boca
De fumo
Uma constelação
Em cada narina
Um rastro lisérgico
Sob a língua
A tarde anfetamina
O dia
Quem gostaria
De mais uma linha?
Quem dormiria?
E eu
Tão disposto a sonhar
Everton Behenck
Sou isso
Que não suporta
A companhia
Passo ímpar
Solidário
Ao próprio destino
De ser tão sozinho
Sou isso
Que não encontra
E se consola
Com a própria fala
De amor
Sou esse nômade
Sempre partindo
Sem saber
Para onde se mudou a tribo
Sou isso
Que fica aqui
Comigo
Quem não espera
Ser encontrado
O que foge
Mas não escapa
Que apagou o xis do mapa
Sou esse
Que só aprendeu a estar
Consigo mesmo
Analfabeto do pertencimento
Everton Behenck
Eu quero me iludir
Eu quero acreditar
Cegamente
Que alguém me aguarda
Na calçada de uma rua
Que ainda suponho
O endereço
Eu quero muito
Acreditar
Que um beijo
Pode me tomar o dia
Das mãos
E me deixar suspenso
Eu penso mesmo
Que posso estar em outra pessoa
Me esperando
Ansioso
Eu estou disposto
A negar todos os indícios
De que não é possível
Só para vê-la
Descendo a escada
Esperando na calçada
Que um abraço a receba
Eu quero acreditar
Em tudo isso
Que não acredito
Everton Behenck
Esse verso
Me custa
A luta diária
Para arrancar a palavra
Em brasa
Esse verso
Me custa
O gosto
Que não conheço
E a certeza
De nunca sabê-lo
Esse verso
Me custa o peso
Nos ombros
Ocupa o espaço
Entre as costelas
Esse verso
Me custa ela
Partindo
Me custa
O sorriso
Pega
O que for preciso
Esse verso
Me custa o sentido
Everton Behenck
Tanto andar
Por esse descaminho
Centopéia
Do tropeço
Tanto recomeçar
Tantos mesmos
Começos
Para cair de novo
De joelhos
Tanto correr
Na pista do desespero
Para se descobrir sem freios
Tanto voar rasteiro
Tanto testar as asas
A duras penas
Tanto que não chega
Everton Behenck