You are currently browsing the category archive for the ‘sexo’ category.
Eu ganho outras cores
E as vezes a escuridão intensa
Do que se apresenta
A vida sempre será imensa
Para quem a perceba
Eu ganho os sentidos
Despidos
Ao mínimo indício
Do vento vivo
Que sopra suas notas
E também a surdez
Da palavra torta
Eu ganho a possibilidade
De estar além do que se vê
Mas quem disse que é bonito
O que está escondido
Eu ganho o que é quase imperceptível
Mas quem disse
Que aquilo que quase não se percebe
Não é capaz de matar o que antes era alegre
Eu ganho a possibilidade linda
De ver tudo o que a vida
Muitas vezes não explica
E em troca sofro de forma explícita
Aonde ninguém mais sofreria
Everton Behenck
Poema resposta para que minha querida amiga Julia Duarte utilizasse em uma aula.
Se hoje
Consigo ser puro
É porque já estive no fundo
Do fundo do sujo
Já fui vil e mau
E provoquei dores enormes
Com um amor disforme
Se hoje carrego o afeto
Como cicatriz de guerra
É porque já matei e morri
Em muitos corpos
E alguns até hoje se decompõem
Sob minha pele
E existem milhares de cruzes
Em meu olhos
Se hoje consigo
Ser puro
É porque já afoguei meus pés
No escuro
Everton Behenck
A Não Editora lançou os Dentes da Delicadeza no formato e-book.
E por apensas R$7,90.
Bom, né?
Passa lá na Amazon.
Preciso escrever um poema
Mesmo que nada em mim
Tenha um rosto
Para virar
Em direção ao verso
A cidade pressente a treva
E a noite não é mais
Que um diluvio de sombra
Mas preciso urgentemente
Escrever um poema
Antes que escureça
Meus olhos
E minhas mãos
Não seguram
A palavra que passa
A ausência me impede
Com sua mão enorme
E sou como um boneco
De ventríloquo
Que ninguém manipula
Os olhos abertos
E a face muda
Os computadores todos escrevem:
Não há poesia
Mas preciso escrever um poema
Com a urgência
De quem sangra
Sem que se perceba
Preciso escrever
Esse poema
Para que ele me convença
Everton Behenck
O prodígio de linguagem
Na face apaixonada
A inconsequência dos olhos
Vidrados
O sono desprotegido
O passo emancipado de si
O gesto multiplicado
A bagagem de uma vida
Na mala de viagem
Atravessar o dia
Como a um oceano
Os remos invisíveis
Na água invisível
Enfrentando o vento
Que não vemos
Os dedos escrevendo no ar
As palavras de um idioma
Próprio
Uma oração sem deus ou milagre
E por isso santa e infinita
A boca selada
Pela língua inútil
O amor de todos os amores
Juntos
Na violência onde tudo é criado
A partir do passado
Tudo o que sabemos do amor
E todo o amor que perdemos
Renascendo imenso
No amor que temos
Everton Behenck
Eu não curto filmes
Com cães e bebes
Nem candidatos
Que parecem cães e bebes.
Eu gosto mais
Dos animais
Do que gosto
De pessoas que gostam de animais
Quem nos protege delas
Eu não curto as fotos
Que tem um propósito definido
E mal escondido
Eu não curto os recados
Cifrados
As mensagens sem endereço
Esse exibicionismo do segredo
Eu não curto
Os eremitas
Olhando sombras virtuais na parede
Que compartilham sua solidão
E nunca ficam sós
Eu não curto muito
Quando percebo os jovens
Me envelhecendo
Porque não compreendo
Sua velhice
A juventude deveria ser ingênua
E louca
E por isso única
E de razão infinita
E morta de vontade
De empurrar as paredes
Temos muitos trilhos
E poucas locomotivas
Muitos gênios
E pouca genialidade
Eu não curto nenhum pouco
Essa confusão que estamos fazendo
Entre arte e opinião
Opinião e piada
Preconceito
E intimidade
Não curto as fotos
Dos pratos
Dos chefs de cozinha
Que preparam cuidadosamente
As historias mais cheias de aromas
E falta de provas
Eu não curto
Essa propriedade
Antes exclusiva da página em branco
De aceitar qualquer coisa
Eu não curto muito
Esse ativismo de sofá
Mas acho muito melhor
Do que deixar de falar no assunto
Eu coloco aqui esses poemas
Sem fazer a mínima ideia
Do motivo por trás disso
E me sinto
Muito ridículo
Acho que é meu jeito de rezar
Mas não curto nenhum pouco
Tudo que é religioso
Eu odeio
As mensagens de fé
Que me ofendem a crença
Eu não curto esse extremismo
Mas estamos em guerra
Ateus e todos os outros
Tipos de tolos
Deus está tentando
Governar nossa maior cidade
E nunca tivemos tanto medo
Mas o que eu curto
Muito mesmo
É ver todos tão empenhados
Em pintar seus auto retratos
Everton Behenck
Cuspa em um estranho
Na rua
Passe a mão na bunda
De uma mulher casada
Ao lado do marido
Faça consigo
O que não quer
Para os outros
Explique a um louco
Os valores da família
Mostre a um pai
A sangria
Das narinas
Faça o dia
Virar noite
A noite
Ser tarde
Faça parte
De uma seita
Depois se converta
Apague um cigarro
No braço
Depois derrame bebida
Na ferida
Reprima a atitude
Depois siga
A vontade reprimida
Exponha suas partes
Mais íntimas
E ria
Da própria agonia
Everton Behenck
O amor não irá nos salvar
O amor é forte
Mas ainda não é força
O amor não supera nada
O amor
Só mostra que existe o outro lado
Para que você salte sozinho
O amor não é o ponto de partida
Nem o ponto de chegada
O amor é o caminho
E sobre ele
Só anda quem não teme perder de vista
O amor não é um lugar para pedir abrigo
O amor chove do lado de dentro
O amor não é suficiente
Para que as pernas se movam
Ele é o motivo
Não é o motor
O amor é só um aceno
Quem corre somos nós
Quem precisa ser forte
É a carne não o amor
Quem precisa vencer as barreiras
São as mãos no exercício do carinho
São as palavras na dicção da delicadeza
O amor não justifica nada
O amor é só um vento
Mesmo sendo capaz de mover e revirar
O amor não vai soprar
Em vão por muito tempo
O amor é muito sutil e muito ingenuo
Quem precisa gritar somos nós
Para multiplicar a voz
Nós precisamos dizer através do amor
O amor não falará uma palavra
Ele não fará nosso trabalho
Árduo
O amor virá morar conosco
Mas somos nós
Com as mãos vazias
Que devemos construir a casa.
O amor não precisa de nós
O amor não nos deve fidelidade
Não nos deve respeito
O amor não nos deve nada
O amor pode ir embora
Quando bem entende
E o amor não prende o amor nos dentes
Somos nós
Com nossa pouca imensidão
Que temos de crescer
Nós que só rezamos ao espelho
É que devemos ter fé e doação
O amor não é o santo
Nem a oração.
Nem o milagre
O amor só aponta o dedo e pergunta da porta:
E agora?
Everton Behenck
Vê como é inútil
A torção dos versos
Em sua boca
Ou o silêncio
De teus ossos
Ou o estalo fraturado
De teu passado
Vê como é inutil
A marca do soco
Que te deram
A cor dos dentes
Em teu riso
O equilíbrio dos teus lábios
Fechados
Na medida inexpressiva
Do silêncio
Olha como são inúteis
Os contornos
Do teu rosto quando goza
Ou a força anterior ao gozo
Não é amor
Ainda que seja
E ninguém sabe o que se acomoda
No suor que se renova
Vê como é inutil teu trabalho
Árduo
Que te cobra o quanto paga
Infinitas vezes
Esse sucesso
O eventual dinheiro
A possível cobiça
Tua promoção
Ou tua aposentadoria
O cansaço das tuas mãos
Ao baterem no chão
Vê como é inutil
Teu cuidado
Para não ferir o ente amado
Para odiar com força
O inimigo
Olha teu sangue inútil
O ar inútil nos pulmões
Sem serventia
O quanto é inutil
Teu dia
E o amanhecer dos olhos
Aperta contra o peito
Essa inutilidade
E ela quem sabe
Te console
Everton Behenck
A facilidade com que nós
Que sabíamos tão pouco
Um do outro
Criamos e dividimos
Uma vida
Em quatro dias
A facilidade
Com que você inventou meu riso
Dente a dente
A facilidade
Com que tiramos intimidade
Rapidamente
De um sofá antigo
Dos primeiros capítulos
De uma série de tv
Que eu nunca voltaria
A ver em outra companhia
A facilidade
Com que eu coube
Inteiro
No espaço entre teu rosto
E o ombro
Enquanto encontrava
Dentro de ti
Um lugar para nunca mais
Sair
Everton Behenck