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É preciso nascer
Tantas e tantas vezes
Para morrer novamente
E de novo voltar
A superfície da vida
É preciso repetir o dia
Em que nascemos
Mais plenos
É preciso inventar a vida
E nosso nascimento
É preciso que sejamos
A mãe e o pai do morto
É preciso sermos nossa própria doença
Para oferecer como recompensa
Uma vida mais plena
Precisamos entender
Que o único e grande intento
É sobreviver a nós mesmos
Everton Behenck
Existe algo enterrado
Cravo as unhas
Com força e cansaço
Existe algo enterrado
Tão alto
Everton Behenck
Haveria uma casa
Para que morássemos
Nós todos
Eu, você
E os outros
Que somos
Acabaríamos nos matando
Sobre a cama
Numa vontade suicida
De devorar a nós mesmos
O que eu teria
Para defender a família
Um copo de bebida
E um carinho intacto
Como você diria
Que me ama
A voz desafiando a distância
Mesmo sabendo
Que tanto em mim
Mesmo que breve
Só existe
Para que eu te entregue
Everton Behenck
E cada ano está melhor. Não deixem de conferir.
E nessa quarta eu vou estar na livraria Letras & Cia lá pelas 15:30 dizendo uns poemas. Vou ler alguns do livro
Os Dentes da Delicadeza, que tá no forno e sai em Maio pela Não Editora. Mas já vou ir vendendo o meu peixe desde já.
Mas a função já começa partir das 14h, com uma edição especial do Papo de Artista com Marcelo Spalding, Nanni Rios e Paulo Tedesco, em que debatem “As artes e a literatura na era digital”. E não pára mais até a noite.
E a festa vai ser a partir das 20hs no Boteco do Pé (Rua João Alfredo, 571, Cidade Baixa). Com o lançamento do Melhor da Festa volume dois. Que reúne textos de todo mundo que participou da Festipoa do anos passado.
E eu vou estar lá dizendo mais algumas coisas.
Vê se aparece! Depois não adianta dizer que nunca tem nada legal pra fazer na cidade.
Beijo, pessoal!
Hoje é preciso
Tirar todas as roupas
Do quarto
Esvaziar os armários
Pintar os quadros
De novo
Trocar as paredes
E janelas
De lugar
Colocar fora
A porta
Mistrurar os autores
Dos livros
Para que contem
Outras histórias
Engolir as bulas
E deixar os comprimidos
Hoje é preciso
Inverter o chão
E o que dizem
Suas pegadas
Hoje
Nada vai ficar
No lugar
Everton Behenck
Esse pequeno conto
De fadas
Um poeta e sua amada
Uma vida dividida
Em tantos nadas
E outra
Fadada aos planos
Alianças e sonhos
Ele
Com sua vida
Desmedida
Procurando uma saída
Inexistente
Um amor ausente
Em passos tão diferentes
Quem teria pena
Deles
Esses que não se encontram
Mesmo que se procurem
Verão quem sabe
Uma pegada
Quase apagada
Que dirá
A direção certa
Indicando para ele
Ela
Essa menina
Procurando o amor
Em sua sina
De construir a vida
Na tentativa
De ser precisa
Em meio a tudo isso
Que se joga contra o infinito
Destruindo tudo
E todos
Pouco a pouco
Uma menina
Decidida
A colocar alma
Em sujeitos
Tão sólidos
Profissionais liberais
E seus destinos óbvios
Onde não costuma haver nada
Para a mulher amada
Além de um destino
De sala arrumada
E contas pagas
Ela procura
Enquanto lê
Como em uma profissão de fé
Os versos que ele escreveu
Para que ela soubesse
O que acontecia
Em sua prece mais íntima:
A poesia
Logo ele
Que não podia
Que não esperava da vida
Mais do que tinha
Em sua loucura
E sua força
De quem enfrenta
Com tanta fúria
Suas lutas obscuras
E sabe que isso
Só é possível
Sozinho
Ele não sabia
Que inventava a vida
No que escrevia
E nascia
Entre seus dedos
Um amor sem medo
Surgia de si
Um homem
Que esperava
Cheio de afeto
Que preparava as mãos
Para o carinho
Mais bonito
Um homem
Que talvez
Por nascer assim
Sem espaço
Ou tempo
Não temesse
A distância
Nem a ausência
E ele ficou ali
Escrevendo o nome dela
De todas as formas
Intuindo seu beijo
E o momento do choro
Para consolar seus olhos
Para mostrar o quanto
E na beleza
Desses acenos
E recados deixados
Para serem encontrados
Na hora exata
Em que o outro chamava
Nascia esse destino
De partilharem
O que sentiam
E finalmente se viram
E ao ver souberam
E chegaram mais perto
E logo não foi mais possível
Desviar os olhos
Ele quis seu olhar
De céu
Para que pudesse respirar
Ela quis seu fogo
Para aquecer
O frio que deixaram outros
Que sabiam do amor
Tão pouco
E do fundo dessa impossibilidade
De onde não conseguiu
Nascer nem mesmo
Um único beijo
Nem uma noite de amor
Para guardarem consigo
No lugar mais bonito
Ambos olham
O lado oposto
Procurando o rosto
Do outro
Imaginando
Como
Tornar realidade
Uma vez que fosse
Algo tão lindo
Que de tão lindo
Não pôde
Everton Behenck
É tão dolorido
Te deixar aqui
No chão frio
Dessas palavras
Onde antes você encontrava
Tanto abrigo
Voltamos novamente
Ao início
O primeiro passo
Caindo exato
Na pegada do último
A lembrança
Colocando seus tijolos
Tão sólidos
Erguendo essas paredes
Onde logo mais
Procuraremos
Uma porta
Inexistente
Que terreno ficará trancado
Nesse metro quadrado
Cercado
Dois de nós
Lado a lado
Imaginando o que há
Lá fora
Nunca vamos
Embora
Mesmo agora
Apenas nos deixamos
Ir com outro
Que também somos
Everton Behenck