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Eu me nego a dizer
Porque a voz

Tem em si

A matéria pura
E infinita

E não posso
Com seu peso

Me nego
A afirmar

Tenho medo
Que a palavra
Me assombre
Como faz nesse momento

O pensamento

Everton Behenck

Então morri

A exatos três quartos
Entre uma e outra hora

E agora

De que serviu
O tapa na cara

Na caligrafia da raiva

De que adiantou
Procurar sentido
Atormentando o espírito

Que não acho

Nem sob
Nem sobre

O corpo morto

De que importa
O sucesso que não tive

O reconhecimento
Que não me ofereceram

Não interessa

Se havia dinheiro
No bolso que agora
Jaz vazio

Sobre meu frio

De que serviu
O verso

Que foi impresso
E o que ficou inédito
Em minha língua

A poesia

Não é uma continuação da vida
Como eu queria

Ninguém me conhecerá
Ou conhece
Através do que minha mão

Já não escreve

Mas felizmente
Não dói assim

Tanto

Acordar morto

Everton Behenck

Quando uma mulher ri alto
Um ato de amor se confirma
Uma esperança se avizinha

Se acende em alguma mesa de cartomante
Um futuro brilhante

Quando uma mulher ri alto
Pássaros se assustam
Por terem entendido algo

No que antes era silêncio

Alguns homens se envergonham
Outros se levantam orgulhosos

De seu destino

E outros tantos choram
Sem motivo

Quando uma mulher linda ri alto
Fique atento

Não se sabe onde
Mas em algum lugar

Nasceram flores

Everton Behenck

Admiro
Os práticos
Que sabem tudo da vida

Em sua alegria

Esses que a atravessarão
Sem maiores percalços

E não serão atravessados
Por ela

Esses que fazem suas contas
Criam seus filhos

E vêem cair uma folha
Sem que isso lhes diga

Nada

Everton Behenck

A vida é esse exercício
De esperança

O olhar da moça
Refazendo sua força

Intuindo motivos
Para seguir sorrindo

A vida é isso

O dia seguinte
Ao velório
De um filho

A vida é estar aflito
E perdido

Por minutos infinitos

E ver nascer do luto
Um sentido

Mais bonito e profundo
Mesmo no escuro

A vida é a nossa palavra
Desesperada

Tentando aprender
Como se diz adeus

Everton Behenck

Queria poder estar perto. Muito mais do que podem aproximar essas palavras, que nunca vão significar o que sinto. Nem vão dizer o que gostaria. Não há essa voz para te mostrar o quanto. Fica aqui comigo essa sensação de que me desperdiço no carinho que não posso te dar. Essa sensação de que me justificaria te beijar de leve. E te abraçar como se isso fizesse alguma diferença. Queria te mostrar que também sou posto a prova diariamente aqui dentro. E que é difícil e ainda assim possível. Como se isso fosse acalmar o que te desafia. Queria atravessar contigo uma rua com o sinal aberto e correr ao fim do passo e te esperar do outro lado, pouco importando para onde estivéssemos indo. Queria que não tivéssemos deixado tanto silêncio. Mas não é nossa culpa, apesar de ser nossa responsabilidade. Queria poder recriar nossos dias e toda a alegria que foram, quando não pensávamos que isso acabaria. E te abraçaria mais forte e triste sem que você soubesse por que. E pensaria toda uma vida a partir desse dia. Queria poder te mostrar que penso em ti com todo o carinho que possuo. E que te ofereço o que tenho de azul e doce. Minhas palavras. Queria que você sentisse nelas a temperatura do afeto.

Everton Behenck

Está no ar o blog coletivo Pássaros Achados. Quem me convidou foi a amiga mais querida que nunca vi. Juliana Brina. Uma poeta muito mas muito mais leve que o ar. Que eu adoro. Tem gente de Minas, daqui e de nem sei mais onde. Todos lá por uma vida deliberadamente mais bela.

http://passarosachados.blogspot.com/

bjs

Um suspiro longo
Como quando o ar

Nos atravessa

E nos justifica
E nossa tristeza

Se esvazia

E fica forte e bonita
E nunca é ar o bastante

E entra de súbito
Com esse ar
De não poder respirar

Todas as palavras

Um amor desencontrado
Uma esperança que insiste

Sem que nos fragilize a coragem
O orgulho de ser pouco

E raso e louco

Por amar assim
Com delicado desejo

De que tudo se quebre

Everton Behenck

Não te escreverei esse poema
Dizendo repetidas vezes

Que estou ferido
Em um órgão desconhecido

E que dele brota
Pouco a pouco

Gotas do que foi
Teu rosto

E já se forma um fio
De tua voz

Querendo pingar
Da ponta dos meus dedos

E ao experimentar essa textura
Sinto palavras esvaírem seu sentido

E dói um pouco de cada homem em mim
E arde um pouco de cada tarde

Onde alguém se encontrou só
Mesmo carregando outro nome consigo

Escrito
No lugar mais bonito

Não te escreverei esse verso
De lirismo honesto

E limpo

Porque não pretendo lembrar
Que também tenho a mesma fome
Os mesmos medos

E os mesmos nomes
Em minha agenda de telefones

E que não passamos
De bichos sem sentido

Procurando abrigo uns nos outros

Esperando que nos ofereçam
O que também não temos

E que isso
Não será possível

Não direi nenhuma vez
Que entendo esse desespero

Em se justificar
Através e antes

Que passem tua beleza
Teu encanto

Tua certeza de que há muito a conquistar
E nada a perder

Não há

E sendo assim
Não fui eu quem se foi

Naquela manhã

Foi aquela
Que você era em mim

Que deixou de existir

Em mim
Você foi muito mais bonita

Do que imaginava teu espelho

Do que te diziam homens
Eretos

Em mim
Você foi bonita o bastante
Para que esquecesse tua beleza

Era mais importante
O que diziam teus cílios

E não o quanto são bonitos
Em teu rosto

Importava mais o silêncio
Do corpo sob as cobertas

Do que tudo que poderiam dizer as pernas
Abertas

E eu me consumia
Em um carinho aflito

E te amava
Sem meias palavras

E arrumava a casa
Onde agora não há nada

Everton Behenck

Sabe que fiz um Twitter há um tempo. Mas nunca divulguei. Sei lá. Sou analógico mesmo. Não conecto direito as coisas. E acho que também não interessa muito a ninguém. Mas, se quiserem é http://twitter.com/ebehenck

Atiro um trecho ou um verso a esmo lá. Todos os dias.

bjs