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O amor não foi feito
Para gente
Gente não sabe do amor
Mais que a palavra
E a palavra em si
Não diz nada
Gente
Quando fala em amor
Conta medo
Quando acha que é amor
Sente medo
Quando abraça cheio de amor
É só medo
De perder
O amor não foi feito
Para gente
De carne e osso
E pele marcada de tempo
A pele sente tanto medo
Que o amor sai correndo
Dos olhos
Dos poros
Do meio das pernas
O amor não foi feito
Para gente
Que não sabe o que sente
E só chama de amor
Por medo de dar nome
Aos bois
Everton Behenck
Uns sucumbiram
À biologia
Outros trocaram a arte
Pela vida
Uns negaram
O que ardia
Para ter alegria
Uns tornaram-se rudes
Ao fim da juventude
Outros sempre souberam
O que eram
E nem por isso
Viveram
Uns não fedem
Outros cheiram
Everton Behenck
Foi sem aviso
Que uma lágrima
Aconteceu em seu olhar
Enquanto ouvia
Minha voz
Que cantava
Na frieza de uma tela
Algo se moveu nela
E foi em minha direção
Que se precipitou
Isso que precisava ser dito
De um modo físico
Para que fosse ouvido
Por mais de um sentido
E assim ficasse impresso
Nos olhos, na pele, nos cílios
Como um livro
Que só pode ser lido
Com os olhos fechados
Everton Behenck
Fazei com que eu tenha força
Para carregar esses músculos
E litros de sangue
Que tem o peso imenso
Do tempo
Correndo
Me permita ter fé
De que a natureza
Sem saber o que é justo
Fará o que é preciso
E me conceda a graça
De ser perdoado
Porque não acharei justo ou certo
Meu fim
Por mais natural que seja
Me conceda paz
Sem que isso signifique
Cuspir a voz
Desistir do olhar
Ou de uma certa fé
Particular
Pelas coisas
Que os homens fazem
Simplesmente
Porque não sabem
Não me deixe
Levantar a ira
Sobre o que não tem culpa
De existir
E sendo assim
É completamente inútil
A ira
E não gostaria
De arrastá-la
Pela vida
Me permita
Amar um pouco mais
Seja isso
Um sorriso no escuro
Ao deitar
Ou apenas uma maneira
De expandir as costelas
De uma forma
Que não seja percebido
Apenas o oxigênio
Do lado de dentro
Do peito
Desejo
Que me seja concedido
Um último pedido
Que guardarei em segredo
Como se tivesse a força
De quem ainda acredita
Em orações
Everton Behenck