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Esta saia só faz sentido
Envolvendo tuas pernas
Longe delas
É só um pano
Desbotando o espanto
Da tua ausência
Esta blusa só existe
Quando guarda o segredo
Dos teus seios
Fora da tua pele
As formas desaparecem
E não há quem reconheça
Beleza
Quantas coisas só existem em tua presença
Everton Behenck
Queria o exílio
A distância
Assumir a fraqueza
Renegar essa tristeza
Essa ausência de certezas
Me fazer de novo ímpar
Envolto em um amor contrário
Onde não há ser amado
Voltado para dentro
Caminhando sozinho
No peito deserto
Afinal é certo?
Ferir tanto
A si mesmo?
Será mesmo preciso?
Matar o amor
Para o amor continuar existindo?
Nada disso faz sentido
O que faço comigo?
Contraditório
Multiplicado em tantos
Espantos
Procurando a verdade
Pesada
No fundo da alma
Procurando o sagrado
Na sala onde Deus foi assassinado
Everton Behenck
Por onde entrou essa saudade?
Se as portas estavam todas
Tão bem fechadas
As chaves guardadas
No fundo da gaveta
Para que ninguém veja
O lado de dentro
Do peito
Por onde entrou o beijo
Que agora
Quer todas as minhas horas?
Se as jalenas estavam trancadas
Sem saber do sol lá fora
E agora a lembrança
Que é tua
Ilumina cada peça da casa
E nada dorme em tua luz
Tudo espera
A próxima visita
Tudo ao redor
Grita teu nome
Convida para que entre
Onde antes
Não havia nada
Os lençóis brancos
Cobrindo a mobília
Onde a entrada de todos estava proibida
Como você fez
Para entrar em uma casa que só tinha saídas?
Everton Behenck
Meu quarto não tem espelho
Porque não gosto de amanhecer
Os olhos
Diante de mim
Minhas noites
São longas demais
E os vaga-lumes
Já dormiram seu brilho
Quando a pálpebra
Abre suas cortinas
Nada pior que a escuridão
De uma manhã de sol
Meu quarto não tem espelho
Porque não quero olhar o rosto
Antes do sono
Que ver o dia pesando
Sem tamanho
A me forçar o ombros
Pode me partir as costelas
E entre elas
Tenho medo
Que não haja nada
E me assusta mais ainda
Ver o rosto anoitecido
Acordar
Com mais oito horas marcadas
Sem que eu nem mesmo saiba
De onde vieram
As oito rugas
Não vividas
Meu quarto não tem espelho
Para que ninguém diga
Que saí com o botão da camisa
Na casa errada
Por me olhar desatento
Está na casa errada
Porque o peito é torto
E essa perfeição
Ninguém me tira
Meu quarto não tem espelho
Para que nenhum reflexo
Descubra
Que dormindo
Não passo de um menino
Everton Behenck
Pernas
Entre elas
Um espaço de fome
Como a boca de um monstro
Como o gosto de sangue
Na língua cortada
Por um beijo afiado
Pernas
Como duas sentinelas
Guardando o óvulo
Feito ave
Moldura de carne
Nas curvas suaves
Um olhar agudo
O sangue fugindo
Quando a mão enforca a perna
Condenada
A passar a noite desperta
Pernas
Abertas
Para que um homem
Entre elas
Se ofereça em sacrifício.
Everton Behenck
Por algum motivo obscuro o pessoal do Vaia decidiu me entrevistar.
Se alguém quiser conferir vale muito a pena. Não pela minha entrevista, que não sou um cara que tenha grandes coisas pra dizer, mas por todo o conteúdo que eles colocam lá, sempre. Ótimo trabalho o deles.
http://jornal-vaia.blogspot.com/2007/11/1-everton-vamos-comear-falando-sobre.html
Como vão as coisas?
Tem sido sol lá fora?
Como você está agora?
Sorrindo?
Os dias tem sido leves?
Como a saudade que eu sinto?
Ou tem pesado um pouco?
Como quando
A alegria vira o rosto?
E teus olhos como andam?
Que há algum tempo não vejo
Direito
Nem sei do sol
Que eles escondem
Como anda teu sorriso?
Tem refletido teu espírito?
Brincado ao redor das horas?
Para que tudo em volta se alegre?
Ou anda breve?
Como a mão que escreve
Um verso triste?
Como está seu peito?
Repleto de sentimentos?
Belos
Como um querer estar perto?
Ter a voz suave
Para não haver distância
O céu do teu peito anda claro?
Como as flores em novembro
E nele anda um querer sereno?
Ou fechou o tempo
E pesaram as nuvens
Escurecendo?
Me fala do teu passo
Que eu invento
A lágrima ou a alegria
Para te fazer companhia
Everton Behenck
Minha janela
Tem um vidro
Quebrado
Sempre quebra
Do mesmo lado
Esquerdo
Já não troco mais
O vidro
Trincado
Sempre o mesmo vinco
Repetido
Sempre a mesma frase
Cortante
O que essa palavra
Esse eco de vidro
Quer dizer aos meus ouvidos?
Everton Behenck
Meus olhos rondam tua saia
Como um menino ronda a casa
Da amada
Procurando a janela aberta do quarto
Que revelaria o corpo sobre a cama
As costas nuas
A maciez descendo a cintura
Meus olhos rondam tua saia
Como o menino ronda a casa da amada
À noite
Esperando que uma luz convide
Que a janela aberta chame
Rondo tua saia como um menino insone
Procurando versos de amor
Em um jardim alheio
Em um canteiro de pequenos gestos
Que bastam
Para que o menino sonhe
E retome a vigília
Esperando que de trás da cortina
Um sorriso acene
A pele de uma mulher deseje
Os lábios lá fora
Guardando o beijo que se nega a ir embora
Meus olhos rondam tua saia
Como um menino ronda a casa da amada
Namorando a madrugada
Everton Behenck
Eu tiro teu vestido
Para despir
O espírito
Que a pele nua
Transparece a alma
Que a cama
Santa
Veste
Na brancura do lençol
No altar do quarto
Na liturgia do beijo
Entre as pernas
Na oração
No forçar da mão
Entrelaçada
Em prece
No cálice do seio
Na comunhão da carne
No milagre
De dois corpos
Desaprenderem sua unidade
Na santíssima vontade
De ser um
Amém.
Everton Behenck
* estava renegando os eróticos mas não vou mais fazer isso. começamos de leve, então. hehe