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Hei menino
Quem é você?
Seu filho
Ele diz com um brilho
No olho
Que nem em sonhos
Eu tive
O que procura nesse quarto?
Um abraço
Ele me diz com os olhos baixos
Vejo em sua mão
Uma caneta
E no papel um verso
Com minha letra
Everton Behenck
Eu cuidaria dessa palavra
Com toda a intenção
Dos olhos
Eu me colocaria desperto
Ao pé do berço
Vendo crescer um gesto
No movimento
De quem descobre seu sentido
E teme a própria força
Eu acalmaria
Seu medo
Entregando o meu
Despido
Eu seguraria essa palavra
Junto ao peito
Ou em qualquer outro
Lugar comum
Que nos reúna
Sem sombra de dúvidas
Eu seria essa palavra
Uma vida inteira
Mas não sei dizê-la
Everton Behenck
Que espécie
É essa
Pousada
Na janela
As asas magras
De quem só pode
Voar para dentro
A quem as paredes
São necessárias
Construídas
A duras penas
Feitas para o que há lá fora
Não ser consumido
Em sua fome de bicho
Everton Behenck
Faz parte da vida
Algum sofrimento
Alguma tarde bonita
De esquecimento
Na pele de um sol morrendo
Mesmo que não signifique
Nenhum nascimento
Nenhum parto de outro
Nascendo em nossa boca
Nos transformando
Em outra palavra
Faz parte dessa coisa
De viver
Sofrer
Sentindo que a causa
Nos pertence
E está fora da gente
Na mesma medida
Tardia
Do que a gente saberia um dia
Em um alento
De tempo por vir
Mas é tarde
Everton Behenck
Já vi poesia
Na novela das oito
No choro falso
De um ator cansado
Já vi poesia
No intervalo
Entre um soco e outro
Que me marcou
Um verso no rosto
Em uma violência domesticada
Já vi poesia
Na escada
Que levava para uma porta
Trancada
Já vi poesia na palavra
Que me fugiu
E não foi encontrada
Já vi poesia no que não vale nada
Além de um verso
Everton Behenck
Eu quero
Um amor bonito
Enquanto mato
Meu romantismo
Para viver um amor possível
Eu espero ela
E acredito
Enquanto mato
O destino
Eu minto uma prece
Sabendo que a verdade
É quem protege
Eu mato minha sanidade
Sonhando uma infinidade
De vida
Eu crio certezas
Sabendo de sua fraqueza
Eu ando avesso
Procurando o que há de inteiro
No interior
Do beijo
Fui feito
Para morrer de álcool
Ou tédio
De gordura
Em alguma artéria
Ou de doença venérea
Fui feito para morrer
Na miséria
De quem não sabe
Atribuir valor
A nada
Fui feito para morrer
Perdido
Sempre no meio
Do caminho
Everton Behenck
O sorriso
Feminino
Muda os planos
Que traçamos
Com tanto cuidado
Andamos passo a passo
Para o lado contrário
Na alegria
De ser oposto
Ao próprio rosto
No sorriso
A mulher esconde
O destino dos homens
Everton Behenck