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Revirar
O pensamento
Arrancar com os dedos
Por entre os cabelos
A dor de tudo que não pudemos
Revirar
O desespero
Como quem procura
A esperança entre as vísceras
Do dia
Revirar
A alegria
Mesmo que ela não exista
Revirar
O medo
Como quem procura
A saída
Em um incêndio
Revirar
A despedida
Revirar a morte
Para reaver
A vida
Everton Behenck
A poesia durou em mim
Exatos 34 anos
Depois foi virando
Dívida no banco
Reunião de última hora
Vaga no estacionamento
Despertador cada vez mais cedo
A poesia habitou meus dedos
Até os 34 anos
Depois foi virando
Sinal vermelho
Tratamento médico
Liquidação de verão
Comida pra cachorro
Receita de bolo sem glúten
A poesia vivia em mim
Até os 34 anos
Depois
Foi sumindo
Minguando
Partindo
Secando
E o que resta de poesia
É essa espera
Pelo o último aceno
Dela
Everton Behenck