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É preciso força
Para intuir a foice
É preciso a moça
Ao lado
É preciso força
Para suportar tantas coisas
Simultâneas
Nas entranhas
Tantos de mim
Querendo sair
A qualquer custo
É preciso um luto
Inútil
Para cada um deles
É preciso força
Para carregar a vida
Assim dividida
Em tantos pesos
É preciso força
Para enfrentar a si mesmo
Everton Behenck
Quero
Aquilo que fica
A poucos centímetros
Em uma distância
Impossível e exata
Quero o que minha mão
Não permite
Quero pedidos aflitos
Aos olhos
Quero o passo
Que chegaria
Mas os pés
Já não podem
Em seu cansaço
Everton Behenck
Foi sem sorriso, que ela bateu com força as asas que não tinha. E quis que, de repente, o chão se abrisse e cortasse a mesa, o bar, o maço de cigarros, o cinzeiro. Tudo ao meio. E arrastasse toda aquela metade de mundo a sua frente para longe. Desejou que essa fenda afastasse a mão que procurava seus cabelos. O sorriso ensaiado a sua frente. O cheiro ácido de cada desculpa. As justificativas nulas.
Foi sem nenhuma força que disse baixo: tudo bem, não. Tudo bem o caralho.
E passou a mão nos olhos secos sem nenhum orgulho do que sentia. Se deixou doer. Tinha que doer. Tinha de ser com raiva sob as unhas. Nunca é de outra maneira.
Olhou em volta para ver se tudo e todos haviam sido consumidos pelo que sentia. Mas todos ainda estavam lá. Ela ainda estava lá. Tirou o anel do dedo esquerdo e o engoliu. A seco.
Everton Behenck
#esse é um dos muitos textos dos duelos poéticos que rolam lá no http://passarosachados.blogspot.com/.
Ela estenderia o braço
Para que descansem meus defeitos
Sem culpa
Ela olharia minha cor doída
Como uma doença da beleza
E por isso mesmo uma benção
E não um fardo amargo
A ser carregado
Ela perceberia
Que algo se agita
Sob minha pele
E por isso
Sou urgente
E combustível
Em meu destino
Ela veria
Em tudo isso
Um motivo para estar comigo
Everton Behenck
Mude a cor
Dos teus cabelos
Troque as roupas
Vá para outra sala
Não importa
Case-se novamente
Encontre um novo amante
Coloque o filho
A frente
Como métrica da distância
Invente todas as irrelevâncias
Na textura
Mais dura
Dê um aceno
Dizendo adeus
Impeça o passo
Com o braço a frente
Conte delicadezas
Que te conduzam para longe
Vá para onde deve ir
Tua consciência
Que a palavra é delicada
No que se atreve
E nunca aprendeu
Como se diz adeus
Everton Behenck
Delicadeza
As duas mãos
Batendo no chão com força
Cavando cada vez mais fundo
Palavra por palavra
As unhas embrutecidas
A dor contínua
A ansiedade das juntas
Em se manterem adultas
A terra removida
Sonho por sonho
Em um desespero brando
O desterro
Os ossos partidos
Do sentido
O amor sujo de terra
Os joelhos marcados
As duas mãos batendo
Para arrancar a raiva
De cada palavra
Para dizer o que é agudo
Sem que se quebrem os dentes
Os dedos cavando
As mãos batendo
Tanto tempo
É sempre imenso
O que dizemos sentindo
Everton Behenck
Naquele exato instante
Fui aquela menina
De cabelo doce
Pedindo colo
Com os olhos
Fui sem dúvida
Seus dedos
Naquele momento
Fui ela não sabendo
Que tinha a vida pela frente
A vida é sempre
A aparição iminente
De algo que nos falta
Fui aquele segundo de susto
Entre o chão e as costas
Do pai
Everton Behenck
As séries de TV
Sobreviveram a nós
Morremos antes dos personagens
Ninguém assistiu
Nossa última temporada
Não havia ninguém na poltrona
Na hora marcada
Não havia mistério
A ser solucionado
Ninguém estava do outro lado
Para ligar os fatos
Do enredo
Não haviam segredos
A serem revelados
Todos os atores eram estreantes
E despreparados
Não sabiam suas falas
Fugiam de quadro
Paravam sempre a um passo
De onde estava marcado no ensaio
Fomos um seriado previsível
Sem cenas do próximo capítulo
Everton Behenck