A vontade que eu tinha
Era sacudir o colega de trabalho

E contar

Palavra por palavra
O que tínhamos conversado

Queria abrir a janela
E ao ver o advogado

Debruçado

Fumando no andar
De baixo

Correr pelas escadas
Sentar à sua porta

E contar
Calmamente

Que nos falamos
Novamente

E você
Aparentemente

Me amava

E amava mais
A cada palavra

Tive vontade de sair
E obrigar o guardador de carros

O único que conheço
Que tem um Astra vermelho

A sentar no banco ao lado

E ouvir
Nossa história

Até que
Emocionado

Limpasse os olhos
Com sua flanela

Ao ver que você
Batera à porta

E assim me trazia de volta

Quis que o senhor
De olhar perdido
No sinal fechado

Desligasse o carro
E me ouvisse

E que ele
Nunca mais ficasse triste

Queria que o porteiro de casa
Largasse a mangueira

Ou tocasse água para cima
Como em um desses comercias de margarina

Porque lembramos
De ter uma família

Queria que minha vizinha de porta
Chamasse o marido

Que foi embora

Para que eles me dissessem
O quanto entendiam

Como era raro
E bonito

Mesmo sendo
Impossível

Everton Behenck