Se você
Acaba de ficar só
Olhe para si
E espere
Calado
Não interrompa o silêncio
Ele é o mundo falando
E é tanto
Não importune sua solidão
Com agendas de telefone
Com mensagens antigas
Elas agora
São uma sala vazia
E uma visita
Seria dolorida
E gratuita
Deixe que a solidão
Se assente
Espere paciente
Que ela encontre seu lugar
Em você
Provavelmente
Levará algum tempo
E o primeiro ímpeto
Será buscar abrigo
No primeiro amigo
Que passar a porta
Mas é provável
Que seja inútil
Então
Não faça
Deixe sua solidão descansar
Leve-a
Até a janela
Para que possa ver a rua
E sentir o vento
No rosto
(A ausência precisa respirar)
Pode acontecer
Uma certa vertigem
Pela violência
Com que se impõe
De súbito
Esse novo e amplo
Espaço
Ao redor de você
É a solidão
O desterro
De pés no chão
Não saberá jamais
Se ela o perdeu
Ou você a ela
Mas isso
Já não será importante
Permita que sua solidão
Lhe conte
O que tem guardado
Há tanto tempo
Enquanto você escondia-se dela
Nela
Escute atentamente
E seja forte
E calmo
E esteja pronto
Para algum choro
Quem sabe
Uma vontade de deitar
Uma sensação de que é tarde
A solidão sabe seu limite
E não fará nada
Em nome de uma dor deliberada
Entenda sua solidão
E a nobreza do que ela traz
Nas mãos
Torne seu olhar brando
E as mãos leves
Deixe que sua solidão lhe apresente
Finalmente
Ao que eventualmente
Pode vir a ser
Você
Everton Behenck
6 comentários
Comments feed for this article
novembro 17, 2010 às 18:09
Aline
demais da conta.
novembro 17, 2010 às 19:31
roberta
ahhhh não faz assim…
novembro 24, 2010 às 02:25
Ivone
Vou tirar cópia para os pacientes, posso?
Quem sabe, assim, eles entendam a necessidade de se estar absolutamente só, com eles mesmos!
Amei!!!
março 25, 2013 às 02:09
Mazes
Eu, mais uma vez, visitando esse poema.
outubro 9, 2020 às 15:19
bruno
lindo demais
outubro 9, 2020 às 15:22
ebehenck
Muito obrigado! Está no livro Nada Mais Maldito Que Um Amor Bonito.