Vem descendo a rua escura
A imensa boca nua

A saliva excitada

Nos lábios de cada
Boeiro

Vem tragando

Cada trago
Extraviado

Vem mascando cada par de pernas
Lambendo entre elas

Vem passando a língua
No calçamento áspero

Empunhando
Punhos fechados

Vêm violentando
Espaços

Espantando os ratos
Apaixonando os cantos

A boca vem cortando
Sacadas

Corredores

Abrindo portas
Chamando todos
Para fora

No sinal de fumaça
De um cigarro

Feminino

Na sua ânsia
Maria, Joana

Seguindo a linha
Com suas narinas
Repetindo rente ao chão

A sexta-cheira

Everton Behenck